Covid-19 e saúde mental: entenda como a pandemia afeta nossas emoções
Uma coisa é fato: o estresse ao qual estamos submetidos nesses dias, inevitavelmente, traz uma dose expressiva de ansiedade e, em certos casos, pode provocar reações mais intensas, como um pavor, em função das incertezas em relação ao futuro. São perguntas normais que as pessoas vêm se fazendo cotidianamente: Vou contrair a doença? Como posso me proteger e a minha família? O que é, efetivamente, mais indicado? O que vai acontecer com todos nós? Devo viajar? E meu trabalho? Enfim, são várias questões que colaboram com o aumento exponencial das inseguranças.
Pelo fato de o tema ser completamente desconhecido de todos, somado à falta de informação a respeito dos reais riscos e das ameaças, a busca contínua de informações confiáveis a respeito da doença entra na equação do estresse. Como somos uma sociedade que gosta de planejar e saber o que nos espera no futuro, essas interrupções, sem respostas em nossa rotina, contribuem para nos colocar no limite e nos empurrar para uma maior condição de instabilidade emocional.
Vale dizer, entretanto, que preocupações dessa natureza surgiram faz tempo com as patologias já bastante conhecidas por todos nós, incluindo a SARS, H1N1, dengue e demais problemas que nos afetaram. No entanto, a cobertura que a mídia está dando ao covid-19, somado à rápida proliferação da doença, faz com que percebamos o problema como sendo uma ameaça única em potencial, e não apenas uma dentre várias pelas quais já passamos, aumentando o risco de um medo pandêmico generalizado.
A literatura especializada já demonstrou que o pânico e estresse têm sido associados ao aparecimento de surtos e problemas de saúde pública em vários continentes, todavia, à medida que aumentam as preocupações com a ameaça percebida –reais ou imaginárias –, as pessoas, não sabendo como reagir, começam a exibir comportamentos disparatados como, por exemplo, comprar e estocar de maneira compulsiva máscaras, álcool gel, papel higiênico, alimentos e demais suprimentos (de saúde ou não), como uma forma de preparo de enfrentamento à doença. E, geralmente, isso é seguido por condutas relacionadas ao aumento do sentimento de maior busca de proteção e mais ansiedade, mas também causando o aparecimento de problemas, como piora na qualidade do sono, acompanhado de uma sensação de instabilidade do estado geral de saúde da população.
Não é atípico, inclusive, que as pessoas comecem a buscar e transmitir de forma compulsiva mensagens através de WhatsApp e demais redes sociais a respeito da doença, na tentativa de alertar os grupos familiares sobre o risco iminente. Esse momento, infelizmente, é particularmente propício ao aparecimento de uma histeria coletiva a respeito do problema, confundindo ainda mais o discernimento daquilo que seria racional e sensato a ser adotado, com aquilo que é irracional e pouco verdadeiro como, por exemplo, o fato de muitas pessoas acreditarem ser o covid-19 apenas uma estratégia política ou social de manipulação de certos grupos, resultando em uma total displicência e incredulidade em relação às medidas de segurança.
As doenças crônicas, incluindo doenças infecciosas, como o aparecimento da tuberculose e do HIV, no passado, foram associadas a níveis mais expressivos de aparecimento de transtornos mentais, quando comparados à população geral em tempos de calmaria. Quando houve o problema com o antraz nos EUA, anos atrás, vale dizer, registrou-se um aumento significativo nas taxas de depressão naquele país.
E o pior, tem mais.
Como as autoridades sanitárias de vários países adotaram estratégias distintas de enfrentamento da doença, vivemos um estado ainda maior de insegurança, pois o cenário aparenta ser ainda mais incontrolável como, por exemplo, o despreparo exibido pela Itália e as consequências devastadoras que estamos testemunhando.
E, como se não bastasse a dimensão internacional do problema, somos expostos de maneira recorrente a opiniões e orientações de "especialistas" que, além de expressarem cenários apocalíticos, em muitos casos se mostram completamente contraditórios em suas avaliações, aumentando ainda mais nosso alarme emocional. Nada mais legítimo então do que se perguntar: "Se líderes e especialistas apresentam pouca consistência no manejo das coisas, o que será de todos nós, então?"
E a incerteza abrange mais do que questões de saúde, ou seja, as pessoas também não sabem se a escola de seus filhos fechará, se seus empregos se manterão, se conseguirão se organizar economicamente, se nossa cidade será bloqueada. Enfim, a ansiedade se soma à sensação de descontrole, como se não houvesse quase nada que pudéssemos fazer sobre todas essas coisas importantes. Resumo da conversa: o desconhecimento se soma às incertezas.
O que fazer então?
A angústia de covid-19 não apenas nos afeta, mas tanto é real que a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou diretrizes para proteger nossa saúde mental durante esse período conturbado.
Vamos a algumas dicas:
- Evite assistir, ler ou ouvir notícias de maneira descontrolada, principalmente, aquelas que podem nos deixar mais ansiosos e angustiados;
- Procure informações pontuais que busquem lhe fornecer medidas práticas e adequadas para proteger a si mesmo e a seus familiares;
- Ao buscar atualizações das notícias, faça-o em horários específicos –estabelecendo qual fonte de informações lhe parece ser mais confiável -, preferencialmente, uma ou duas vezes ao longo do dia, pois o acesso ao fluxo constante de informações sobre o covid-19 pode fazer com que você se sinta ainda mais ameaçado. E, finalmente,
- Como nosso sistema imunológico responde às nossas oscilações emocionais, uma recomendação é certa: cuide de sua estabilidade emocional, pois, ao fazer isso, estará assegurando um dos melhores trabalhos de base e, principalmente, reforçando seu sistema imunológico (ele oscila ao sabor de nosso estresse). Não conseguindo ter o controle das questões externas, podemos, pelo menos, procurar exercer um controle a respeito de nossa estabilidade psicológica.
Conclusão
Nosso cérebro reage muito mal à falta de planejamento e à perda do controle a respeito das incertezas iminentes. Assim sendo, tentar diminuir o estresse e a ansiedade inclui qualquer forma de diminuição da estimulação sensorial, além disso, aumentar o suporte social e desenvolver estratégias adequadas de enfrentamento podem ser ações bastante úteis. Desta maneira, procure dar um tempo junto aos eletrônicos (e às telas digitais), pois elas são fonte intermitente de notícias, o que dispara a ansiedade, funcionam como um tipo de "gatilho" emocional.
Nos momentos que experimentar maior angústia, procure falar de suas preocupações a respeito do covid-19 com pessoas de sua proximidade e confiança, ou seja, evite compartilhar suas inquietudes com qualquer pessoa, pois isso lhe fará ouvir mais opiniões de estranhos, muitas vezes pouco balizadas, o que pode aumentar sua sensação de medo e pânico. Ao buscarmos as pessoas significativas, renovamos as sensações de confiança e cumplicidade, o que está ligado ao aparecimento dos sentimentos de pertencimento e de proteção, resultando em uma maior percepção de amparo social.
E, finalmente, como sugestão de técnica emocional de enfrentamento, caso você esteja vivendo níveis muito altos de alarme emocional, tente fazer exercícios regulares de mindfulness. Eles são, comprovadamente, poderosos aliados na manutenção do equilíbrio emocional e, além de auxiliar na manutenção da calma, também afetam positivamente nosso sistema imunológico.
Resumindo: estabeleça rotinas que envolvam formas de "controle" e de "previsão" de seu cotidiano, pois tais sensações de manejo são fortes o suficiente para acalmar sua mente e seu cérebro mais primitivo.
Evitar deteriorar seu equilíbrio psicológico em tempos de crise, ou seja, cuide de si mesmo, antes de mais nada, e procure assim diminuir os efeitos do COVID-19 em sua saúde mental.
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