Internet está mudando a forma como pensamos: entenda como
Uma grande pesquisa internacional, envolvendo 5 universidades (Sydney University, Harvard University, Kings College, University de Oxford e University of Manchester) descobriu aquilo que, intuitivamente, já imaginávamos: a internet produz alterações agudas em áreas específicas de nossa cognição (leia-se: onde opera nosso pensamento) e impacta nossa atenção, memória e as interações sociais.
As principais conclusões desse relatório são que os altos níveis de uso da internet podem, efetivamente, interferir em muitas das funções de nosso cérebro.
Atenção e memória
Vamos lembrar que, diferentemente da leitura de um livro, por exemplo –onde mergulhamos, compenetrados, nas ideias e não somos interrompidos –, na web, as notificações contínuas e incessantes nos estimulam a manter uma atenção mais "dividida", digamos assim, e que, obviamente, reduz nossa capacidade de foco e de concentração.
A internet e as plataformas digitais, vamos lembrar, se baseiam em "modelos de interrupção", ou seja, quanto mais interação conseguirem obter dos usuários, melhores e mais valiosas elas serão. Além disso, o mundo online carrega tantas informações factuais que nos tornamos, aos poucos, mais superficiais.
E, claro, todos esses elementos em conjunto acabam por afetar a forma que tínhamos de memorização das coisas.
Eu explico.
Diferentemente do passado, quando tínhamos que nos debruçar sobre algum material escrito, atualmente, basta que possamos alcançar o celular para que, em alguns poucos segundos (nunca além de uns toques), as informações são facilmente obtidas. Tal recurso "prático" fez com que a importância dada ao fato em si seja menor do que o processo de busca, interferindo então na maneira pela qual armazenamos as coisas em nosso cérebro.
Por acaso você se preocuparia com algum tópico que pode ser facilmente recuperado após alguns cliques? Evidente que não.
Assim sendo, dizem muitos pesquisadores, a quantidade de informação à qual temos sido expostos não tem contribuído, necessariamente, para a consolidação de um maior repertório de conhecimento. Nicholas Carr, importante cientista, repetidamente já afirmou que as crianças nascidas após a década de 90 sofreriam pontualmente desse problema, pois teriam sido criadas, desde o nascimento, sob a interferência de alguma mídia digital. E complementa ao dizer que as denominadas "gerações superficiais" estariam sofrendo uma verdadeira epidemia da distração.
Tanto é verdade, que pesquisas indicam que um usuário mediano checa seus gadgets, pelo menos, a cada 19 segundos.
Uma outra recente linha de investigação apontou que, nos Estados Unidos, 8 em cada 10 crianças com até 8 anos de idade já possuem um telefone celular e 45% permanecem online "quase constantemente".
E não para por aí: um censo sobre o tempo de uso da internet informou que o brasileiro é um dos povos que mais usa a internet no mundo (com um tempo médio de 9:29 h diárias), além de também ostentarmos a marca do país que mais usa o WhatsApp, se comparado aos demais.
Dependendo do ponto de vista, poderíamos dizer que, de fato, as coisas e o desenvolvimento caminham muito bem, entretanto, ninguém ainda parou para sequer considerar quais seriam os possíveis "efeitos colaterais" dessa exposição massiva às telas.
Relações sociais
O que pouca gente se deu conta é que as relações sociais, igualmente, foram tão afetadas pela vida digital que, na última década, cresceu dramaticamente a proporção de interações sociais que uma pessoa exibe em sites de redes sociais (por exemplo, Facebook, Instagram, Twitter). Isso contribuiu para que tenha ocorrido uma importante troca no locus das experiências pessoais significativas da vida real para a vida digital. Dito em outras palavras, o ambiente social online acabou por impactar dramaticamente todos os aspectos da vida offline das pessoas.
Embora ainda não se saiba se essas interações virtuais envolvem (ou não) o cérebro humano de maneira análoga à socialização do mundo real, o fato é que parte expressiva de nossas experiências diárias perpassam pelas mídias digitais, interferindo no nosso bem-estar emocional.
Conclusão
Com base em tudo que acabamos de discorrer, é importante que algumas mudanças possam ocorrer.
Em primeiro lugar, se, no passado, o acesso à informação era um diferencial importante na ascensão da qualidade de vida, hoje, tentar se "proteger" do excesso e do bombardeio incessantes de fatos nos possibilita um importante diferencial de preservação cognitiva.
Em segundo lugar, enganam-se aqueles que acreditam que, quando o assunto é o funcionamento mental, "quanto mais estímulos, melhor", pois, na verdade, o cérebro funciona exatamente de maneira inversa, isto é, "menos é mais". Nossa mente precisa sempre de um "tempo de digestão" das informações e a velocidade intensa, na qual a web nos despeja novidades, cria uma saturação mental que impede uma boa performance intelectual.
E, finalmente, enquanto não tivermos ainda uma boa dose de pesquisas que nos orientem a respeito da melhor forma de utilização das novas tecnologias, é possível que o futuro ainda nos cobre um pedágio alto, ainda mais quando o assunto é disponibilizar os celulares e tablets às crianças e adolescentes. Ninguém conta, mas, quase 80% dos aplicativos denominados "educativos", jamais foram sequer pesquisados para receber essa classificação.
O resumo da conversa é então bem simples: usar a internet e as telas com moderação. A vida digital não pode e não deve se sobrepor às experiências da vida concreta.
Ao proceder assim, preservamos nossa forma de raciocinar, asseguramos nosso equilíbrio e, finalmente, dosamos de forma mais sensata como se portar na vida virtual. Não podemos mais ficar passivos às influências negativas das novas tecnologias.
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