O que as mídias sociais estão fazendo com sua autoestima e bem-estar?
Cerca de três bilhões de pessoas, ou seja, nada menos do que 40% da população mundial, usam as mídias sociais online o tempo todo, atualmente. De acordo com alguns relatórios, estamos gastando uma média aproximada de duas horas por dia, compartilhando, curtindo, twitando e atualizando todas essas plataformas das quais participamos.
Caso você ainda não saiba, isso representa cerca de meio milhão de tweets e fotos do Snapchat sendo compartilhados a cada minuto. (1) Com as mídias sociais desempenhando um papel tão importante em nossas vidas, poderíamos estar, de algum modo, gastando o nosso tempo de maneira inútil, o que afetaria a nossa autoestima e bem-estar?
Autoestima
De acordo com uma pesquisa realizada junto a 1.500 pessoas, metade dos jovens –com idade variando entre 18 e 34 anos– diz que navegar nos sites de mídia social faz com que se sintam pouco atraentes e inadequados. (2)
Um outro estudo sugeriu ainda que a visualização de selfies de outras pessoas fazia com que houvesse uma diminuição imediata da autoestima. Basicamente porque acabamos nos comparamos aos demais que, além de mais atraentes, parecem estar mais felizes.
Investigações de três universidades conjuntas (Universidade de Strathclyde, Ohio e Iowa) também descobriram que em um grupo de 881 mulheres, aquelas que olham selfies de outras mulheres acabavam por se sentir inferiorizadas. (3) O mesmo aconteceu em uma outra pesquisa conduzida na Suécia, junto a mil usuárias do Facebook. (4)
E por que isso acontece?…
Simples, eu explico.
Se formos tomar por base a mídia tradicional impressa, por exemplo, as modelos usadas são pessoas distantes de nosso convívio – e até onde "sabemos", muitas vezes, são exemplos de beleza e sucesso. Entretanto, nas mídias sociais, aqueles que vemos como bonitos e bem-sucedidos são pessoas que, de alguma forma, já conhecemos. Isso contribuiria para a construção de um "legítimo" processo de inferiorização pessoal.
Preciso lembrar ainda que nossa imagem corporal é parte central de nossa autoimagem, pois é também a partir dela que construímos nosso senso de identidade. Ou seja: não se trata de uma questão de simples vaidade pessoal, mas algo, de fato, real e muito importante para nós. Em um momento em que estamos amadurecendo e buscando consolidar maneiras de assegurar nossa aceitação grupal, acabamos por sentir uma imensa pressão social para estarmos equiparados aos demais e, obviamente, acabamos não conseguindo. (3)
E ao termos nossa autoestima afetada, também sentimos abalado nosso senso de bem-estar.
Bem-estar
Um outro estudo mais antigo se debruçou sobre essa dimensão. Para avaliar o bem-estar dos internautas, montou-se um grupo de 80 pessoas para um experimento com duração total de 14 dias. Nele, os pesquisadores enviaram mensagens de texto cinco vezes por dia a cada participante. A cada mensagem, eles eram questionados (a) como se sentiam e (b) quanto tempo haviam usado o Facebook desde a última mensagem que lhes havia sido encaminhada.
Sabe do resultado?
Quanto mais tempo as pessoas passavam navegando no site, pior iam se sentindo; Ou seja: com o passar do tempo, menor era a satisfação que tinham com a própria vida. No entanto, em ciência, nem sempre os achados são compatíveis e lineares. Um exemplo é outra pesquisa realizada pelo Departamento de Marketing da Universidade da Pennsylvania (EUA). Eles descobriram que, para algumas pessoas, as mídias sociais podem ajudar a aumentar seu bem-estar. (5)
Os pesquisadores revelaram que as redes sociais, muitas vezes, podem reproduzir alguns mecanismos de uma "psicoterapia", ou seja, aquelas pessoas que já são emocionalmente mais instáveis são as mesmas que exibem uma maior propensão de postar e dividir sobre suas emoções negativas, o que pode, muitas vezes, ajudá-las a receber um maior apoio e atenção. Isso, teoricamente, exerce uma função positiva no processo de recuperação das vivências negativas.
Conclusão
No geral, os efeitos da mídia social sobre nossa autoestima são negativos e, no que diz respeito ao nosso bem-estar, são ambíguos (6). Contudo, existem mais evidências consolidadas do impacto negativo sobre o bem-estar daquelas pessoas que são, naturalmente, mais isoladas do ponto de vista social.
Infelizmente, como conseguimos manipular a imagem social que veiculamos a nosso respeito, se comparada à nossa realidade da vida concreta, é certo dizer que nossos relacionamentos virtuais talvez sejam mais marcados pela autodecepção e pelos sentimentos negativos do que na vida real.
Em um estudo conduzido em Berlim, envolvendo 600 adultos, os usuários do Facebook foram pesquisados em relação a seus sentimentos. Cerca de um terço afirmou que a mídia social os fez sentir mais emoções negativas – principalmente frustração – do que as positivas. Além disso, a inveja foi a principal delas (lembrem-se que, hoje, temos informações privilegiadas a respeito dos outros). (7)
Nesse sentido, é importante que tenhamos consciência ao usar estas plataformas, pois de que vale transitarmos por elas se, no final das contas, não saímos muito bem?
Talvez enquanto adultos, tenhamos mais maturidade e bom senso, mas o que dizer a respeito de nossas crianças e de nossos jovens, que gastam muito mais do que as duas horas citadas anteriormente?
Acredito que seria muito importante ficarmos atentos. Afinal, as mídias sociais estão mexendo, definitivamente, com nossa autoestima e nosso bem-estar.
Referências
- http://www.bbc.com/future/story/20180104-is-social-media-bad-for-you-the-evidence-and-the-unknowns
- https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0736585315301350
- https://www.bbc.com/news/health-26952394
- https://gupea.ub.gu.se/handle/2077/28893
- https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2013148
- https://link.springer.com/article/10.1007/s10902-016-9808-z
- https://www.hu-berlin.de/en/press-portal/nachrichten-en/archive/nr1301/nr_130121_00
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