O açúcar consumido na gravidez pode causar impactos severos nas crianças
Não é de hoje que algumas pesquisas se debruçam sobre os efeitos que certos alimentos consumidos pelas mães no período da gestação podem criar na saúde do feto. Cafeína, gordura, certos queijos não pasteurizados (como o camembert e brie), além do consumo da carne crua, entre outros, já foram objetos de estudos e de reiterados avisos sobre os impactos na formação do bebê. (1)
Também é de amplo conhecimento que uma alimentação desbalanceada durante a gravidez pode privar o organismo de cálcio, ferro, iodo e outras vitaminas que, após o nascimento, levam a deficiências importantes na capacidade de aprendizagem da criança, provocando um maior atraso no desenvolvimento da linguagem ao criar problemas comportamentais e, finalmente, uma piora expressiva no desenvolvimento de certas habilidades motoras, se comparadas àquelas que foram bem nutridas e alimentadas. (2)
Um novo estudo, no entanto, procurou examinar a possível associação entre o consumo de açúcar (sacarose, frutose, bebidas adoçadas, como os refrigerantes dietéticos e os sucos de frutas), e as habilidades futuras de raciocínio, exibidas após o nascimento da criança. (3) Embora isso já tenha sido pesquisado anteriormente (4), os achados agora vão um pouco mais além. Ainda que o material não tenha sido publicado (está no prelo), já podemos olhar com mais cuidado os resultados.
A investigação
Pesquisadores coletaram dados a respeito da alimentação de 1.234 mulheres grávidas entre o período de 1999 a 2002. As dietas das crianças, após o nascimento, também foram vistas e cruzadas posteriormente com avaliações de raciocínio feitas nessas crianças aos três e novamente aos sete anos de idade.
Os achados? Acho que você não vai gostar de saber…
O consumo de açúcar materno, especialmente através de bebidas adoçadas que contêm adoçantes calóricos (refrigerantes, bebidas de frutas, bebidas esportivas, chás e cafés, bebidas energéticas e leites açucarados), foi associado a uma cognição infantil mais pobre, incluindo habilidades não-verbais mais fracas e uma memória verbal menos estruturada. Leia-se: a capacidade de a criança resolver novos problemas foi claramente afetada.
O consumo destes produtos pela mãe, na gestação, foi associado também a menor inteligência global da criança (menor QI). Ou seja: quanto mais açúcar, menores foram as habilidades verbais e não-verbais exibidas ao longo das investigações posteriores feitas junto às crianças (até os sete anos).
E não parou por aí: enquanto as habilidades motoras visuais e espaciais foram mais precárias na primeira infância, as habilidades verbais foram mais precárias na metade da infância.
O consumo de açúcar pelas crianças na infância também foi avaliado e esteve associado a uma menor inteligência verbal.
Os resultados, devo confessar, não são muito animadores. Se você tiver curiosidade, sugiro dar uma olhada no material original. (3)
Conclusão
Consumir mais frutas e menos açúcar, bem como evitar refrigerante diet durante a gravidez, pode ter um impacto positivo no funcionamento cognitivo global da criança, se comparado as mães que usaram mais açúcar, conforme demonstrou a investigação. (3)
Por outro lado, o consumo de frutas na primeira infância esteve associado a maiores escores cognitivos em várias áreas (maior vocabulário, melhores habilidades motoras visuais e, finalmente, maior inteligência verbal). (3)
Não sou nutricionista e, portanto, peço desculpas aos colegas por me debruçar neste tema. No entanto, como psicólogo, me atrevi a apresentar esses achados, pois como clínicos somos procurados pelos pais de crianças e de adolescentes para analisar problemas de ordem psicológica e de desenvolvimento, sem saber que lá atrás a falta de informação dos pais pode ter colaborado de maneira determinante com problemas psicológicos que surgirão no futuro.
Vamos ficar atentos?
Referências
- https://www.parents.com/pregnancy/my-body/nutrition/what-not-to-eat-when-pregnant/
- https://www.raisesmartkid.com/pre-natal-to-1-year-old/2-articles/19-babys-brain-development-during-pregnancy
- http://www.ajpmonline.org/article/S0749-3797(18)31606-4/fulltext
- https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnmol.2015.00086/full
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