Geração Millennials

Time Magazine / Millennials Cover

É fato que nosso acesso à tecnologia tem produzido efeitos em todos os segmentos de nossa vida. Dizem alguns pesquisadores que a quantidade de informações, que vai trafegar pela internet nos próximos dois anos, será maior do que toda aquela já acumulada em toda a história da humanidade. Portanto, essa avalanche de informações trouxe inevitavelmente uma série de consequências.

Na revista americana Time desta semana é capa uma matéria a respeito da geração chamada Millennials (ou The Me Generation). Jovens que nasceram entre 1980 e 2000 e que são, na verdade, uma evolução das gerações baby boomers, X e Y, pois tiveram desde seu nascimento algum tipo de contato com a tecnologia e a mídia virtual (por isso também são chamados de nativos digitais). Apenas nos EUA, estamos falando de 80 milhões de pessoas. E no Brasil, de acordo com o último CENSO do IBGE, quase 60 milhões de jovens adultos.

O artigo descreve várias características desta nova geração como, por exemplo, mais preguiçosa,  se comparada às gerações anteriores, ou seja, menos ativa na busca de seus objetivos. Afirmam isso, pois seus jovens acreditam que obterão o sucesso profissional muito mais cedo na vida e sem muito esforço. Acreditam, inclusive, que "deveriam" ser promovidos a cada dois anos, independente de sua performance profissional.Segundo afirmam os especialistas ouvidos pela reportagem, os Millennials são também mais alienados, pois demonstram menores níveis de engajamento social, pois lhes falta uma maior consciência coletiva. O fato de permanecerem o tempo todo conectados compromete a capacidade desta geração em aprender coisas novas e com isso desenvolverem um melhor processo de reflexão. Não esboçam níveis mínimos de conhecimento social atual e nem passado.

Outra característica: A exposição pessoal seria um dos pontos centrais desta nova geração. O hábito de se auto fotografar, por exemplo, postar informações a todo o momento a respeito de onde se encontram, com quem estão, o que estão fazendo, o que estão vestindo etc, teriam então, segundo alguns autores, contribuído à criação de uma geração de narcisistas.Para sustentar tal tese, o artigo da Time  menciona, inclusive, que, segundo o Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, a presença do transtorno narcisista da personalidade é hoje 3 vezes maior entre jovens com 20 anos de idade do que o das gerações que possuem 65 anos ou mais.

Assim sendo, se formos considerar que a internet nos encoraja a um modelo mais horizontal de comunicação, exposição e de trocas, é possível então que os Millennials  tenham experienciado uma profunda imersão junto a pessoas de interesses e afinidades semelhantes. Vivem em um ambiente altamente personalizado e que reflete cada vez mais os valores pessoais ou grupais de cada internauta.

Neste sentido, é bem fácil perceber que as informações que fogem deste modelo customizado, são naturalmente filtradas ou bloqueadas. Dificilmente o indivíduo será perturbado por coisas que não lhe agradam, pois entram em sites que lhes chamam a atenção, assinam RSS feeds de temas que lhes importam, participam de grupos que discutem coisas de seus interesses, ou seja, participam do que lhes estimula e se esquivam daquilo que não lhes satisfazem. Correm então o risco de se tornarem uma geração fechada em seu mundo próprio de valores, com pouca consciência e visão de mundo, pois vivem uma realidade altamente personalizada.

Devo lembrar que a maturidade de uma pessoa, grupo ou sociedade se forma, em grande parte, através das relações verticais – nos relacionamos com pessoas de idades e formações diversas – e dos modelos a que somos expostos junto a pessoas mais velhas como, por exemplo, pais, professores, tios, empregadores, líderes etc. O desconforto daquilo que não nos é familiar é que tem a força de nos expor e nos induzir a pensar de maneira diferente, ou seja, o crescimento apenas pode ocorrer quando nossas convicções são colocadas a prova. E os Millennials? Provavelmente estão sendo poupados disso.

Leitor, vou lhe dizer então o que tem sido abundantemente discutido, pois existem duas grandes linhas que procuram explicar o futuro desta geração.

Na visão otimista, afirma-se que nunca houve tanto acesso a informação, como se tem hoje. Assim sendo, a geração Millennials tem a sua disposição o que nenhuma outra geração teve. Se bem aproveitado, nossos jovens poderão capitanear uma das maiores mudanças sociais de séculos. Don Tapscott, autor da obra Grown up digital, afirma que, pela primeira vez na história, os jovens são as autoridades de algo realmente importante, pois podem modificar praticamente todos os aspectos de nossa sociedade, ou seja, da sala de aula aos corredores do Congresso.

Entretanto, a visão mais pessimista diz que esta geração ameaça as gerações futuras, pois a informação não está necessariamente se transformando em conhecimento. Mark Bauerlein autor da obra The Dumbest Generation, afirma que  esta geração vive um dos maiores estágios de alienação, de horizontes limitados e com um nível de incompetência jamais visto anteriormente. E conclui afirmando: "os jovens do séc. XXI não serão a 'próxima grande geração' ".

Enfim, quem arrisca um palpite?… Seria bom pensar no assunto!