Embelezamento Alcoólico: efeitos fisiológicos e psicológicos do beber
Quem nunca passou por aquela situação de ingerir bebidas alcoólicas um pouco além da conta e no dia seguinte se arrependeu?…
E quando isso acontece, é como se tivéssemos colocado "óculos de cerveja", expressão cunhada em inglês como beer goggles, que consiste na tese de que quando ingerimos uma certa quantidade de álcool, nossa capacidade de olhar a beleza se tornaria, digamos, mais generosa.
Pois bem, a ciência tem explicado o que realmente ocorre – e vários fatores contribuem para isso.
Influência psicológica
Em primeiro lugar, temos um aspecto puramente psicológico. Foi conduzida uma experiência em que algumas pessoas foram informadas de que haviam consumido, sem saber, uma quantidade especifica de bebida alcoólica. Como resultado, suas opiniões a respeito de si mesmas mudaram expressivamente, ou seja, ao saber que tinham bebido, se consideravam mais atraentes, brilhantes, originais e engraçadas do que aqueles que acreditavam não ter consumido nada de álcool.
E as coisas não param por aí: as pessoas sóbrias também acham mais atraentes aquelas que estão "alegres" em função do consumo do álcool. Em um estudo científico, indivíduos que consumiram o equivalente a um copo de vinho foram considerados mais atraentes do que aquelas pessoas que não haviam consumido nada. (1)
Participantes de outra investigação, apontaram para os mesmos achados: aqueles que haviam ingerido vodca acharam o rosto de certas pessoas mais charmosas e mais bonitas do que aqueles que não tinham consumido uma bebida alcóolica nenhuma.
Portanto, ao que tudo indica, há uma crença ou uma natural predisposição de as pessoas acharem que o álcool, de uma maneira ou de outra, contribui para facilitar as coisas nas relações interpessoais. (2)
Influência fisiológica
Obviamente, os efeitos do álcool sobre o cérebro também são reais. Quando bebemos, nos tornamos menos capazes de perceber a assimetria facial, conhecida por ser um importante componente de atratividade humana, por exemplo.
Como a biologia nos ensina, uma boa simetria mostra que um indivíduo possui melhores características genéticas, indicando alguém mais saudável e, possivelmente, uma melhor escolha no caso de reprodução. Como nossos antepassados não dispunham de maiores informações a respeito do outro, um bom equilíbrio facial indicava boas escolhas, segundo nossos instintos evolutivos "pré-programados".
Ainda nos dias de hoje, tanto homens quanto mulheres acham mais atraentes e mais saudáveis pessoas com maior simetria do que as demais – sem tanta harmonia e "beleza", por assim dizer.
Portanto, é como se a ingestão do álcool pudesse ter um efeito ilusório sobre nosso cérebro mais primitivo, "borrando" as imperfeições faciais das pessoas menos atraentes, tornando-as mais simétricas e, definitivamente, mais fascinantes aos nossos olhos.
Claro que também há o fato de o álcool aumentar a impulsividade, nos tornando menos seletivos e exigentes em nossas escolhas afetivas, segundo apontam os modelos biológicos de pesquisa. (4)
Uma das regiões do cérebro com maior queda de atividade quando se está sob efeito do álcool é o córtex pré-frontal – região responsável pela tomada de decisões e pelo pensamento racional. Com o córtex pré-frontal menos ativo, ficamos sujeitos a agir sem pensar muito. (5)
Conclusões
Bastante óbvias.
As variáveis psicológicas e fisiológicas interagem de maneira profunda quando o assunto é o consumo de álcool. Ao que tudo indica, beber exerce um efeito positivo na percepção da beleza no ambiente em que estamos e na percepção sobre nós mesmos e os outros.
Bebemos para nos soltar e, aos nos soltarmos, relaxamos nossos critérios de avaliação pessoal, "facilitando bastante" as coisas para nosso lado.
"Ai, que bom seria" se as pessoas, de fato, pudessem a partir desses contrastes de suas personalidades (sem álcool versus com o álcool), se auto-aprimorar, não acham? Muito embora algumas delas entendam o álcool como um veneno necessário, há coisas dentro delas que precisam ser aniquiladas e, infelizmente, a bebida é vista como a única possibilidade.
Referências
(1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25716115
(2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2485891
(3) https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2016/07/the-science-of-beer-goggles/485591/
(4) http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0001391
(5) https://www.psychologytoday.com/blog/you-illuminated/201006/your-brain-alcohol
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