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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Pesquisa revela relação entre problemas no trabalho e a infância

Dr. Cristiano Nabuco

26/07/2016 07h00

fotolia - Photographee.eu

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Curioso o que acontece conosco em nossa infância, não acha?… Pois bem, dependendo do tipo de ambiente em que vivemos, nossa capacidade de nos sentirmos bem aumenta de maneira exponencial na vida adulta.

Funciona mais ou menos da seguinte forma: quando experimentamos as boas relações enquanto pequenos, nossa autoestima é consolidada de maneira positiva. Por outro lado, quando essa necessidade de amparo não é disponibilizada pelos cuidadores, a criança tem a chance de tornar-se mais insegura e retraída.

Lembremos que, enquanto pequenos, sempre vivemos momentos de muita angústia e, como nossa personalidade está em plena formação, apoio ou ameaça tornam-se vivências decisivas na composição do que nos tornaremos em nosso futuro.

Assim sendo, quando nossos pais estão mais atentos às nossas necessidades infantis, criamos uma tolerância adicional para lidar com os momentos de tensão, pois nos sentimos mais "protegidos" e, principalmente, mais confiantes de nossa capacidade de enfrentamento.

Por outro lado, crescer em espaços onde a ausência dos pais é marcante, a autoestima infantil se solidifica de uma maneira mais incerta e insegura, aumentando de maneira exponencial a possibilidade de ela não se sentir confiante nos momentos futuros de tensão e estresse.

Uma nova pesquisa publicada na revista Human Relations revelou que as relações e os comportamentos observados no local de trabalho também apresentam uma forte ligação com os estilos parentais vividos na infância.

Os pesquisadores estudaram como esses estilos de vinculação interferem no comportamento organizacional. Segundo o que foi especulado, os indivíduos podem transferir este padrão de ligação com os pais para o local de trabalho e, em particular, influenciar de maneira determinante o relacionamento com o próprio chefe.

A premissa é a de que como os pais cuidam da criança, os chefes – teoricamente -, agindo como os responsáveis no local de trabalho, "cuidariam" do adulto no local de trabalho, treinando, apoiando etc.

A conclusão foi interessante.

No caso de pessoas que foram bem cuidadas na infância, constatou-se que a conduta dos chefes interferiu menos no comportamento desses indivíduos, pois como cresceram sentindo-se amparados, a presença de chefes mais críticos ou menos tolerantes, abalou menos a autoestima desses funcionários.

Entretanto, no caso de adultos que cresceram em lares menos alicerçados, a reação emocional dos chefes – quando não muito positiva -, acabou por gerar um impacto emocional mais negativo nessas pessoas.

Bem, e a consequência para o ambiente de trabalho?

Funcionários com histórias negativas de ligação e de apego com os pais foram aqueles que relataram níveis mais elevados de estresse e os menores níveis de desempenho profissional.

Como se sentiam (muito) mais ameaçados do que os profissionais seguros, exibiram adicionalmente menores habilidades de ajudar os colegas de trabalho e poucos recursos emocionais para manejar as situações de tensão (pois não havia "registro" histórico de sucesso em sua memória).

Resumo da ópera? Simples.

As pessoas, de fato, mais do que se imagina, vêm para o local de trabalho trazendo suas seguranças ou inseguranças vividas originalmente em suas relações com as figuras de apego (pai ou mãe) e que, obviamente, serão ativadas no ambiente organizacional.

Talvez fosse interessante que, antes mesmo de fazer algum trabalho para a melhoria do clima organizacional, que os profissionais de RH tivessem mais conhecimento a respeito da mecânica de formação de nossa personalidade (infantil) e, cientes disso, arquitetassem estratégias mais direcionadas e mais efetivas de mudança pessoal.

 

Referência bibliográfica

http://hum.sagepub.com/content/early/2016/05/20/0018726716628968

Para saber mais, consulte: Abreu, CN (2010). Teoria do apego: fundamentos, pesquisa e implicações clínicas. SP: Editora Casa do Psicólogo.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!