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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Bullying sofrido na infância ainda é evidente após 40 anos

Dr. Cristiano Nabuco

22/04/2014 09h00

© hikrcn - Fotolia.com

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Esse é o resultado de uma pesquisa, que acaba de ser publicada no Americam Jornal of Psyquiatry, envolvendo uma amostra de 7.771 crianças que foram expostas ao bullying aos 7 e 11 anos e que até os 50 anos de idade foram acompanhadas pelos pesquisadores.

Caso você ainda não saiba, bullying deriva de um termo da língua inglesa (bully = "valentão") e se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, realizadas por uma pessoa (ou grupo), com o objetivo de intimidar ou agredir alguém.

A investigação conduzida pelo Instituto de Psiquiatria do King's College em Londres mostrou que os efeitos deste tipo de violência foram devastadores na saúde física e mental dos pequenos, não apenas na época dessas vivências, mas também perpetuando tais dificuldades com a passagem do tempo ao criar, inclusive, impactos negativos na vida social e econômica, agora do adulto.

Quando as crianças vítimas do bullying ficaram mais velhas, mostraram igualmente uma diminuição das funções cognitivas (percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas), bem como um aumento da possibilidade de desenvolverem pensamentos suicidas, depressão e transtornos ansiosos.

Vamos entender um pouco melhor os resultados?… Eu explico.

Crianças que foram alvo de comportamentos hostis na infância, naturalmente se tornam mais introvertidas, diminuindo assim as habilidades de entrosamento social ao longo do tempo. Como consequência, além de permanecerem mais inseguras, tal postura de retraimento interfere ao contribuir para resultados acadêmicos a médio e longo prazo mais baixos (pois temem sofrer nova hostilidade).

Na pesquisa, o grupo vítima de bullying relatou também possuir menores níveis de suporte social, bem-estar pessoal e níveis inferiores de contentamento geral com a vida. Portanto, ter sofrido maus-tratos na infância e na adolescência, gerou efeitos negativos por toda uma vida.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2013 pelo IBGE, com 101 mil alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, mostrou que 1 em cada 5 jovens pratica bullying e 7,2% torna-se alvo desses comportamentos destrutivos, ou seja, quase 30% dos estudantes brasileiros – seja praticando ou sofrendo esse tipo de violência, já foram impactados com o problema. Outras estatísticas, inclusive, apontam para dados de maior prevalência, tornando o fato ainda mais preocupante.

Infelizmente, nossa sociedade como um todo ainda se mostra muito despreparada para lidar com tais questões. Se formos considerar que 39% das vítimas de bullying em escolas repetem a agressão com outras pessoas, temos um tema muito sério nas mãos.

Concluindo, o bullying não deveria ser considerado uma experiência normal na vida de ninguém. Seria muito bom você ficar atento, pois se os efeitos do bullying ainda são visíveis quatro décadas depois de terem sido vividos, conforme relata a pesquisa, temos que nos preparar melhor para atenuar ou até interromper esses efeitos na vida de nossas crianças.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!