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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Quem é mais vulnerável à rejeição social?

Dr. Cristiano Nabuco

09/04/2014 09h00

© Andrea Danti - Fotolia.com

© Andrea Danti – Fotolia.com

Os seres humanos têm atributos únicos e algumas qualidades que os distinguem de outros. As diferenças individuais, por exemplo, são responsáveis pelo fato de alguns reagirem mais positivamente a certas situações de vida, enquanto outros, não conseguindo se sair tão bem, sofrem com interpretações mais negativistas da realidade.

Especificamente, ao se tratar das relações sociais, estas diferenças fazem com que alguns sejam mais atentos aos comportamentos de acolhimento grupal e, com isso, desfrutam de um sentimento positivo de inclusão. Entretanto, há aqueles que percebem o contrário, ou seja, julgam que os outros os rejeitam e que, portanto, as interações sociais sempre são tidas como mais atribuladas.

Apesar destas diferenças, a maioria das pessoas compartilha um desejo comum de desenvolver relações positivas e duradouras, mas, quando esta condição não é facilmente atingida, uma variedade de consequências psicológicas é observada.

Uma investigação recém publicada no periódico Plos One procurou compreender o que ocorre quando alguém tem seu "senso de pertencimento" abalado. Neste estudo, através de exames de neuroimagem, verificou-se que algumas regiões do cérebro que monitoram a sensação de exclusão social, inclusive, se tornam mais ativas nestas circunstâncias.

O que influencia o sentimento de aceitação?

Na investigação, constatou-se que a autoestima de cada um tem um papel fundamental neste processo. Eu explico. Pessoas que tendem mais frequentemente a perceber os sinais de rejeição social são aquelas que desenvolvem uma menor autoestima. Essas situações igualmente produzem nestas pessoas uma maior ativação nas regiões do cérebro associadas ao sofrimento.

Por outro lado, indivíduos que geralmente entendem que os outros são mais receptivos são aquelas que mais desenvolvem uma autoestima elevada.

Assim sendo, o amor-próprio de cada um torna-se um poderoso delineador das experiências (ou trocas) que fazemos com o meio ambiente ao conferir uma valência positiva ou negativa aos acontecimentos da vida.

Neste processo, inclusive, outro fator se mostrou bastante decisivo: a habilidade individual de saber diferenciar as emoções.

Quando interpretamos uma situação como potencialmente negativa (por exemplo, nos sentindo rejeitados pelo grupo), imediatamente somos visitados por uma série de pensamentos automáticos (negativos em sua natureza, diga-se de passagem) e por emoções diversas como a vergonha, o medo etc.

Desta maneira, a investigação notou que, quando um indivíduo "percebe" a alteração emocional decorrente deste processo, torna-se ele mais apto a enfrentar seus sentimentos de desconforto. Desta forma, diferenciar aquilo que sentimos em momentos de angústia nos auxilia a manejar e reduzir os sentimentos de exclusão social.

Agora, sentir-se excluído e não conseguir identificar as emoções decorrentes deste processo ajuda a tornar a vivência de não aceitação ainda mais tóxica, pois nessa inconsciência de sentimentos, ficamos ainda mais confusos.

Portanto, quanto mais ágeis conseguirmos ser no processo de autopercepção, mais capacitados estaremos para lidar com as fatalidades da vida.

Como se preparar então?

Fica claro, portanto, que nossa inteligência emocional torna-se fundamental no processo de enfrentamento da realidade.

Para atenuar as reações negativas e o sentimento de mal-estar que às vezes passamos, procure fazer então o seguinte: (a) identifique a situação desconfortável; na sequência, (b) observe quais pensamentos são disparados em sua mente e, finalmente (c) diferencie as emoções experienciadas neste episódio.

Vamos novamente, através de um exemplo prático: Uma vez que você consiga identificar os componentes da sequência: situação-pensamento-emoção, procure colocar em perspectiva a lógica (ou a validade) de seus pensamentos.

Por exemplo: (situação) "Entrei na cafeteria e ninguém me deu um oi" – (pensamento): "Acho que ninguém gosta de mim" – (emoção): "sinto-me triste e rejeitado".

© Robodread - Fotolia.com

© Robodread – Fotolia.com

Desta forma, uma vez que você consiga identificar os contornos de seu pensamento, pergunte-se: "quais evidências eu tenho de que fui efetivamente rejeitado?". Ou ainda: "O fato de ninguém me dizer 'oi' significa que ninguém gosta mesmo de mim?".

Ao sabatinar sua lógica mental, você rapidamente perceberá que seus pensamentos muito possivelmente conterão certos erros ou exageros de interpretação – o que, definitivamente, contribui para deixar-lhe ainda mais desequilibrado. Assim sendo, sempre que tiver que lidar com situações constrangedoras, lembre-se que, na grande maioria das vezes, as pessoas sequer notam o que fazem conosco.

Neste caso então, um pensamento alternativo poderia ser: "talvez as pessoas não tenham me visto entrar na cafeteria" ou ainda "é possível que tenham me visto, mas estivessem com outras preocupações e por isso não me olharam".

Aborrecer-se por suposições acerca do comportamento alheio é uma pura perda de tempo. Eu posso lhe assegurar isso. Grande parte de nosso sofrimento é decorrente de coisas que, na verdade, não existem.

Conclusão

Como psicólogo, tenho plena consciência de que não é das tarefas mais simples "desarmar" nossa lógica habitual, entretanto procure exercitar interpretações alternativas (ou seja, tente sair da posição de vítima). Com isso, tenho certeza que nas próximas situações que envolverão o sentimento de rejeição, muito possivelmente sua reação será mais adaptativa e menos sofrida.

E minha última dica: é possível sim, que algumas vezes tenhamos que lidar com alguns desafetos reais (não imaginários), entretanto procure não ficar se culpando por não ser estimado. Nosso valor, em última instância, se dá exatamente pelas qualidades e pelos defeitos que temos que, combinados, dão forma àquilo que somos. Assim, por favor, não tente ser aquilo que os "outros" esperam de você.

Conforme disse certa vez Clarice Lispector: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".

Aprenda a se gostar!… Não é difícil. Com isso, posso lhe garantir que você conseguirá alterar seu sentimento de rejeição social e sentir-se melhor consigo mesmo.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!