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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Preocupe-se menos e proteja-se contra problemas de saúde mental

Dr. Cristiano Nabuco

05/02/2014 09h00

© Piotr Marcinski - Fotolia.com

© Piotr Marcinski – Fotolia.com

Você é uma pessoa que pensa demasiadamente a respeito dos problemas de sua vida?

A preocupação excessiva ou generalizada pode ser a causadora de diversos problemas psicológicos e psiquiátricos. Parar de se preocupar (ou se preocupar menos) é um exercício diário que sempre procuro ensinar aos meus pacientes.

Se uma pessoa dessas, por exemplo, é questionada a respeito do assunto, provavelmente responde que vive desta forma ("pensando muito"), pois, ao antecipar qualquer situação negativa, estará mais preparada psicologicamente para lidar com as situações adversas que venha a encontrar no futuro. Entretanto, o que a maioria das pessoas ainda não sabe é que isso pode, na verdade, tornar-se um círculo vicioso e trazer ainda mais adversidades.

Entretanto, se você parar por um minuto e monitorar seu pensamento, irá perceber que esse "estilo" de pensar, na realidade, raramente é positivo, pois ninguém que se preocupa demais imagina coisas boas acontecendo.

Algumas pessoas me dizem, inclusive, que antecipar os movimentos da vida é uma característica positiva, o que eu discordo profundamente, pois o círculo vicioso da preocupação, além de trazer mais desconforto emocional, não é algo que se interrompe da noite para o dia. Quem prevê coisas ruins acontecendo no trabalho, por exemplo, naturalmente passa a prever coisas ruins no seu dia-a-dia, com a família, com os amigos, e assim sucessivamente até o ponto em que sua autoestima fica contaminada.

É exatamente essa "falta de freios" que pode levar ao desenvolvimento de muitos problemas psicológicos. O estresse e a ansiedade são alguns deles. Mas esse processo pode desencadear ainda muitos outros problemas. Eu explico.

Ansiedade generalizada e depressão

Algumas pessoas que se preocupam constantemente podem acabar desenvolvendo o que chamamos de Transtorno de Ansiedade Generalizada, que é uma preocupação excessiva, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhada por alguns sintomas como inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e, finalmente, perturbação do sono.

Outras ainda, ao "ruminar" os problemas reais ou imaginados, acabam desenvolvendo a Depressão, que consiste em uma grande expectativa negativa a respeito do presente, do futuro, afetando a visão pessoal e sua capacidade de enfrentamento das adversidades da vida.

Assim, eu lhe pergunto: Como contornar esse problema? Como se preocupar menos?

Um simples exemplo é visto muito frequentemente na população mais idosa. Caso você não saiba, os níveis de preocupação em pessoas com mais de 60 anos é muito menor do que pessoas com idade entre 16 e 29 anos (onde há picos de pensamentos antecipando o futuro e ruminação dos problemas atuais).

O que ocorre nestes casos é que, aos poucos, as pessoas mais velhas passam a entender que os altos e baixos fazem parte da vida emocional de qualquer um e, portanto, é fundamental lidar com a realidade circundante de forma mais serena.

O que fazer?

Então vamos a um dos exercícios que deveria ser feito cotidianamente para quem se preocupa demais. Uma dica valiosa é reavaliar nossas "crenças" a respeito do que é bom e mau na nossa vida.

Saiba que nossa cognição (pensamento) contém um determinado filtro, que é desenvolvido ao longo de nossa vida e, desta forma, "enxergamos" a realidade através desta lente de valores, que é única e pessoal, o tão chamado "ponto de vista". Assim sendo, criamos nossas verdades que, muitas vezes, estão enviesadas e raramente representam a realidade pura. Por isso é que muito dificilmente encontramos alguém que pense e enxergue as coisas da nossa maneira.

Uma das grandes dicas de uma psicoterapia, portanto, é aprender a perceber este "filtro" mental em atividade, pois, ao fazê-lo, diminuímos nossas crenças irracionais a respeito da vida e de nós mesmos.

Assim, de vez em quando, pare e procure se automonitorar (isto é, pense sobre seu pensamento) e veja qual estilo ou tendência ele apresenta.

Se é de um estilo "catastrófico" onde você prevê o futuro negativamente, sem considerar outros resultados mais prováveis ("se eu não for bem na prova, estarei seriamente comprometido"); se é do tipo "tudo ou nada" onde você vê uma situação apenas em duas categorias ("se eu não for um sucesso total, serei um fracassado"), do tipo que "desqualifica as coisas positivas", onde, de forma não razoável, você diz a si mesmo que experiências, atos ou qualidades positivas não contam ("não é por que eu fiz esse trabalho de maneira correta que sou um bom profissional"); ou ainda do tipo que evoca uma "visão em túnel", onde você vê  apenas os aspectos negativos da situação ("o professor de meu filho não sabe fazer nada direito. Ele ensina muito mal").

Saiba que é normal pensarmos coisas adversas, entretanto, quando os estilos negativos de pensar são irracionais e desproporcionais, nos trazem então um aumento do mal-estar. Assim sendo, da próxima vez que não se sentir bem, pergunte-se: "O que eu estava pensando neste momento que me fez sentir assim?".

Isso irá ajudar-lhe bastante, pois rapidamente você conseguirá entender esta "tendência" desadaptativa que, possivelmente, é generalizadora.

Enfim, independente dos nomes que damos a estes pensamentos, o mais importante é que você aprenda a perceber esta tendência mental que possui e que, muitas vezes, funciona de maneira silenciosa, trazendo-nos muito desconforto emocional.

Outra dica boa: tente limitar o tempo e momentos que você passa pensando no futuro. Determine um horário, ou um dia, onde você não pensará a respeito.

E, finalmente, ocupe-se com coisas positivas. Sim, se você pensa demais em problemas, está faltando algo que tire sua atenção desse pensamento negativo. Faça – ou descubra – algo que distraia sua mente de maneira construtiva. Permita-se desligar do mundo ao seu redor, vez ou outra. Isso é muito bom.

Conclusão: Preocupe-se menos e proteja-se contra problemas de saúde mental, eu pessoalmente lhe recomendo muito isso.

"O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sábia e seriamente o presente" – Buda.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!