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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

E a promessa de fazer mais exercícios este ano? Vai bem?

Dr. Cristiano Nabuco

29/01/2014 09h00

© Tomasz Trojanowski - Fotolia.com

© Tomasz Trojanowski – Fotolia.com

Janeiro é o mês mais cruel do ano. Especialmente se você tem intenções de ficar em forma.

De acordo com uma análise recente publicada no periódico British Journal of Health Psychology, a grande maioria das pessoas que, com boa intenção, fizeram uma promessa de que o Ano Novo seria o de "fazer mais exercícios", possivelmente irão abandonar a ideia nas primeiras semanas do ano.

Afirma ainda a pesquisa que, mesmo aquelas que fazem exercício já há um bom tempo, o começo do ano envolve um "enfraquecimento" no desejo ou até na possibilidade real de interrupção das atividades físicas mais antigas.

E o pior ainda não foi dito: Um quarto das pessoas que têm uma rotina fixa de exercício vão simplesmente parar ao longo deste ano, conclui a investigação.

Mas, afinal, o que faz com que acabemos com qualquer chance de uma boa intenção?

Esta é, de fato, uma questão complexa para a psicologia, para a fisiologia e para os geneticistas e tentar respondê-la, definitivamente, não é tarefa fácil. Mas vamos lá…

Já é lugar-comum dizer que exercício é ótimo para a saúde, que a humanidade passou praticamente toda sua existência fazendo algum tipo de atividade física, que existem dezenas de outros benefícios comprovados etc, mas ainda assim nossa força de vontade acaba no meio do caminho e simplesmente paramos. De olho nisso é que as academias já lhe cobram por longos períodos de tempo, já cientes de sua possibilidade de desistência futura.

Mas, voltando ao assunto, alguns estudos sugerem que um dos fatores enfraquecedores desta vontade seria a personalidade das pessoas.

O papel da personalidade

Por exemplo, indivíduos mais extrovertidos são naturalmente mais motivados a fazer atividades físicas. Mas sabemos igualmente que quanto mais agradável uma pessoa é, menores são as chances de ela ter uma rotina fixa de exercícios, pois ao ser muito aberta, acaba se envolvendo muito (socialmente falando) no ambiente e assim acaba perdendo mais facilmente o foco das atividades. Quem já não foi a uma academia e não viu alguém que fica mais batendo papo do que propriamente se exercitando? Pois é… Quem também endossa essa premissa é o British Journal of Sports Medicine.

Outro estudo, feito pela Norwegian Business School, em Oslo, entretanto, mostra exatamente o contrário, isto é, quanto mais fortes são as personalidades, menor a probabilidade delas modificarem seus hábitos, dentre eles, o de fazer exercícios.

Outros dados interessantes vêm de um estudo feito em pela Associação Americana de Psicologia (APA), onde indica que um dos principais fatores que desmotivam um indivíduo a se engajar em uma rotina de exercícios é a "força de vontade" (33% das pessoas dizem que ficar na inércia, sem ter que se deslocar para uma atividade física, é mais fácil).

Portanto, nesse ponto chegamos à conclusão de que a personalidade pode até ser um fator predisponente, mas não é exatamente determinante nesta tentativa de execução dos exercícios.

Mas, o que faz com que desistamos do nosso plano de começar o ano fazendo exercícios pode ser algo mais simples. Eu explico.

Planos irreais

Por exemplo, muitas pessoas imaginam metas fora da realidade ou completamente fora da realidade. E quando, finalmente, elas dão início a uma rotina de atividades físicas, as coisas não acontecem do jeito esperado, desmotivando-as.

Portanto, uma dica valiosa é aquela que visa metas objetivas e dentro de "sua" realidade. Se você não gosta de acordar cedo, não adiante marcar natação para as 5h30 da manhã, por exemplo, pois você não terá forças de continuar. Concluindo: faça algo que você gosta e lhe traga bem-estar.

O que fazer?

Na escolha de sua atividade física deste ano, antes de decidir, pare e pense:

a) Qual horário lhe seria mais fácil, considerando sua agenda?
b) Que tipo de pessoa você é? Extrovertido ou introvertido? Isso lhe ajuda na definição de atividades individuais ou coletivas, por exemplo.
c) O que especificamente você busca (emagrecer, fazer alongamento, correr uma maratona etc). Definir isso é prioritário, pois lhe ajuda na definição de algo que lhe traga efetivamente satisfação e, finalmente,
d) Converse antes com algum especialista que lhe oriente, isto é, não faça as coisas de sua cabeça. Ele poderá dar-lhe dicas valiosas que aumentam seu aproveitamento.

Conclusão

Procure aliar as coisas, isto é, (1) faça algo de que você gosta e que combine com seu estilo pessoal, (2) alie isso a um período do dia que lhe seja de maior facilidade realizar e, finalmente, (3) monte um plano que seja realista. Como isso tudo em mente, as chances de você não cair mais nas estatísticas de desistência serão muito menores. Pense nisso!

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!