Vício em Cafeína: Uma nova doença do séc. XXI
Os seres humanos passam por uma transformação intensa na puberdade, especialmente no cérebro, onde ocorre a chamada "maturação neural" – processo que ocorre no desenvolvimento do indivíduo para a estruturação e funcionalidade completa do sistema nervoso.
O que ninguém ainda sabe é que consumir cafeína durante essa fase pode deixar o cérebro mais vagaroso. Pelo menos, é o que afirma uma nova pesquisa feita com modelos animais e que pode ser replicada em humanos.
De acordo com pesquisadores suíços, o consumo de cafeína tem aumentado expressivamente nos últimos 30 anos, não somente pelo consumo do café em si, mas também pela ingestão de diversas bebidas que levam a substância em sua composição, como certos tipos de chás, refrigerantes e, principalmente, os energéticos que são consumidos indiscriminadamente por adolescentes e jovens adultos.
Sabemos que é durante o sono que o cérebro torna as sinapses mais eficientes e mapeia novos caminhos para facilitar o acesso a informações. Assim, quanto mais cafeína houver no organismo, afirmam alguns pesquisadores, pior será o ciclo de sono desses adolescentes, o que vai influenciar de maneira determinante o desenvolvimento cerebral.
Um dado interessante que também apareceu foi que nos modelos animais acompanhados, o comportamento igualmente sofreu alterações. Assim, quando a fonte de líquidos era mais centralizada no consumo de água, os animais exibiam um comportamento típico dessa fase da vida: a curiosidade e uma atitude explorativa. Todavia, aqueles que consumiram mais bebidas contendo cafeína se tornaram mais introvertidos e muito cautelosos.
Vamos lembrar que muitos transtornos mentais se manifestam na adolescência e, desta forma, as mudanças causadas pelo consumo de cafeína no cérebro poderiam precipitar esse desenvolvimento. Muito embora ainda não esteja claro como isso aconteceria, dizem esses pesquisadores, o risco estaria presente e mereceria toda a atenção.
Um novo transtorno do séc. XXI?
A nova versão do manual da psiquiatria, o Manual Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM-5), na seção "condições para estudos futuros", incluiu entre os quadros que merecem atenção nos próximos anos, o Transtorno do Uso de Cafeína.
De acordo com a publicação, alguns sinais deveriam ser observados, como os indicativos do transtorno. Por exemplo: o desejo incontrolável por bebidas cafeinadas, o uso indiscriminado desse tipo de produto, mesmo quando há problemas físicos e psicológicos, a sensação de "fissura" quando não se consome cafeína, não conseguir cumprir obrigações para conseguir tomar bebidas cafeinadas, dentre outras características.
Um dos pontos críticos avaliados pelo DSM-5 foi o fato de que as bebidas cafeinadas são consumidas regularmente por até 80% da população mundial e, desta forma, até 7% dessa população poderia estar desenvolvendo sem saber o "vício em cafeína".
Entre aqueles que consomem regularmente bebidas cafeinadas estão os jovens em idade universitária e indivíduos com outros problemas com drogas, sendo que a prevalência dessa população poderia chegar então aos 20%.
A presença de outros transtornos psiquiátricos foi igualmente apontada como outra questão expressiva neste grupo. O consumo de cafeína foi associado a um maior consumo de tabaco (cigarros) e também é mais presente em indivíduos com histórico de abuso de álcool e outras drogas (maconha e cocaína). Além disso, há também uma associação do consumo exagerado de bebidas cafeinadas e depressão, transtornos ansiosos e, finalmente, o transtorno de personalidade antissocial.
Conclusão
Para tudo é necessário equilíbrio. Assim, uma boa opção é tentar orientar os jovens no consumo de energéticos e de outras bebibas contendo cafeína, ou seja, tentar reduzir ao máximo seu uso ou, no caso do consumo do café, fazer a substituição pelas versões descafeinadas (ou ainda tentar controlar o horário de ingestão, pois quanto mais avançada a noite, piores os resultados).
Sabemos que os jovens utilizam indiscriminadamente os energéticos misturados ao álcool, pois disfarçam o nível de embriaguez e assim auxiliam nas interações sociais. Cerca de um terço dos jovens entre 12 e 14 anos afirma tomar bebidas energéticas regularmente nos Estados Unidos.
Kathleen Miller, pesquisadora da Universidade de Buffalo, afirma em seu estudo publicado no Journal os American College Health que o alto consumo de bebidas energéticas está associado a comportamentos típicos de usuários de drogas, presença de comportamentos agressivos e arriscados que inclui, inclusive, sexo sem proteção e violência interpessoal.
A conclusão não sugere que as bebidas energéticas causam mau comportamento, mas que o consumo regular de bebidas energéticas pode ser um sinal de alerta aos pais. E conclui a pesquisadora: "Parece que os jovens que tomam muito bebidas energéticas têm mais tendência a assumir riscos".
Portanto, se o vício em cafeína será ou não um dos novos transtornos do séc. XXI ainda não sabemos, entretanto, o excesso de consumo já nos mostra de maneira bem ampla seus efeitos adversos em todos os níveis.
Seria muito bom ficarmos atentos.
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