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Descoberta nova técnica de manejo do estresse

Dr. Cristiano Nabuco

21/04/2020 04h00

Crédito: iStock

Desnecessário dizer que a vida no cotidiano não é das atividades mais fáceis. Somos bombardeados por todos os lados, ininterruptamente, sendo solicitados a agir de uma maneira razoável e sensata. E, pode apostar, há algo ainda mais difícil a ser considerado: muitas vezes temos de tomar decisões que envolvem a vida de terceiros, o que faz de nosso equilíbrio psicológico um bem extremamente valioso a ser mantido.

Não importa se você ocupa um papel maior ou menor, nesse cenário em que nossa vida moderna se desenrola, é inevitável escorregar, não há muita escolha. E, de olho nesse processo, muitos "especialistas" propõem estratégias de manejo e redução do estresse que, no final das contas, eu lhe digo, como profissional da área, pouco ajudam, a não ser aumentar a pressão interna de autocobrança e de culpa pelas decisões inadequadas.

A partir desse cenário, uma pesquisa se debruçou sobre uma nova técnica que pode nos oferecer um poderoso recurso no comando psicológico individual. (1)

Eu explico.

É sabido por todos que, à medida que vamos crescendo, desenvolvemos um "diálogo interno" mental que funciona como um tipo de "gestor", no qual nossas problemáticas são apresentadas e avaliadas e onde ocorre esse processo de incubação intelectual de onde partem nossas decisões. Você pode ter alguma consciência a respeito ou, no pior das hipóteses, nem se dar conta, entretanto, é exatamente assim que ocorre em nossa mente, por ação de nosso pensamento.

Nesse "espaço", por assim dizer, nos preparamos para certas apresentações, ponderamos sobre diferentes escolhas e repensamos as coisas que dissemos ou fizemos –tudo por meio de uma narrativa interna de autoconhecimento.

Muitas vezes, entretanto, nossas emoções criam marolas que impedem um raciocínio mais límpido e claro, turvando uma avaliação mais isenta dos fatos.

Caso você não saiba, em processo de tomada de decisões, sempre estará em foco um sutil jogo de forças: uma, proveniente de nossa amígdala cerebral (que é região mais primitiva de nosso cérebro e de onde as emoções são originadas), e outra derivada de nosso córtex pré-frontal (região mais recente em nossa evolução e onde se dá a lógica formal dos fatos). (2)

É assim que ocorrem as tentativas de acomodação, ajuste ou síntese entre as duas fontes de informação (emoção e razão) no enfrentamento diário dos problemas.

E aqui vai a importante questão: como manter esse "precioso equilíbrio" para que nosso comportamento possa estar sempre em harmonia?

Simples, eu lhe digo.

Cada vez que você estiver experimentando uma situação mais complexa, digamos, ter uma dúvida a respeito de como agir em uma determinada situação mais carregada de tensão, experimente conversar com você em terceira pessoa.

Vamos novamente.

Uma pesquisa científica sugeriu que conversar com você mesmo na terceira pessoa –silenciosamente, em sua própria cabeça — pode ajudar a regular as emoções. E mais, esse  diálogo interno pode ser mais útil do que conversar conosco na primeira pessoa. Por exemplo, em vez de dizer "eu tenho um problema a ser resolvido", procure pensar da seguinte forma: "fulano –no caso, utilize seu nome –, tem um problema que precisa ser solucionado".

O diálogo interno silencioso na terceira pessoa –referindo-se a nós mesmos pelo nome e como "ele ou ela" em vez da primeira pessoa "eu" –é uma ferramenta poderosa para regular as emoções.

Os cientistas descobriram, por meio de exames de eletroencefalografia e de ressonância magnética funcional (fRMI), que a conversa interna na terceira pessoa ajuda as pessoas a ganharem um pouco de distância psicológica emocional para refletir sobre seus próprios pensamentos e sentimentos, ou seja, é como se estivéssemos tratando de pensamentos e sentimentos a serem dados a outra pessoa.

Conjetura-se que essa estratégia, na verdade, tem o poder de diminuir a intensidade do processamento da amígdala cerebral, isso é, de onde nascem as emoções. (1)

Assim sendo, vai aqui a minha dica: da próxima vez que tiver algum impasse emocional, ou seja, alguma dúvida a respeito de como agir, em vez de pensar em como você deveria se comportar, pense "no que você falaria" para um amigo que está em apuros (o que você pensa, como avalia a situação e, finalmente, qual conselho ofereceria).

Repasse essa conversa mental ou verbalmente, dê suas opiniões e dicas e, assim, veja o que isso poderá resultar em suas emoções. Tenho certeza de que você se surpreenderá muito ao descobrir o quanto que raciocinar na terceira pessoa pode lhe auxiliar no manejo do estresse, na diminuição das emoções mais intensas e, finalmente, no aumento do repertório pessoal de respostas de enfrentamento.

Faça essa experiência e me diga.

Tenho certeza que esse será um significativo recurso a ser usado pelas pessoas a lidarem melhor com o estresse.

 Referências

  1. https://doi.org/10.1038/s41598-017-04047-3
  2. https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2014/06/25/entendendo-nossas-emocoes-do-passado-ao-presente/

 

 

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Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!