Redes sociais: quanto mais tempo você gasta, pior você fica?
Dr. Cristiano Nabuco
03/12/2019 04h00
Os usuários de redes sociais correm o risco de se tornarem cada vez mais viciados em plataformas de mídia social, apontou uma nova pesquisa. (1)
Já não é de hoje que eu venho comentando aqui em meu blog sobre várias pesquisas mostrando que algumas redes sociais realmente causam um tipo de "desgaste emocional" em seus usuários em função da angústia gerada pela necessidade contínua de postagens e de aceitação, busca obsessiva por curtidas, sem falar nos aspectos ligados aos circuitos de dependência tecnológica que são acionados pelo prazer provocado pela liberação de dopamina no cérebro (exatamente igual ao que acontece no jogo patológico ou no uso de certas substâncias).
O que não se sabia, porém, é que essas pessoas, quando confrontadas com esse mal-estar tecnológico, em vez de saírem das redes sociais como uma maneira de se recuperarem, saltam para outra atividade dentro da mesma rede social. Assim mostrou uma pesquisa publicada recentemente sobre estresse tecnológico (1). Em vez de saírem da rede social e fazer uma "desintoxicação digital", os usuários se mantinham no mesmo ambiente na esperança de diminuir a angústia.
Vamos a uma comparação para nossa conversa ficar mais clara: digamos que estamos sofrendo por não conseguir regular nossa alimentação. Como forma de aliviar esse sofrimento, buscamos "alternativas" como, por exemplo, fazer um regime e/ou iniciar alguma atividade física. Assim , saímos do circuito daquilo que está nos deixando para baixo, certo?
No caso das mídias sociais, a pesquisa mostrou que quando se sentiam desconfortáveis, os usuários simplesmente não conseguiam deixar o meio em que o estresse se originava. Assim sendo, seria o mesmo que, para tentar diminuir a ingestão excessiva de chocolate, começássemos a tomar mais sorvete. Ficou mais claro agora?
A pesquisa avaliou o hábito de 444 usuários de uma rede social e apontou que, sempre que algo não ia bem, eles apenas alternavam as atividades "dentro da mesma plataforma", ou seja, se estavam se sentindo mal com o baixo retorno nas postagens, mudavam então o comportamento de conversar com amigos, escrever no feed ou postar novas atualizações. Desta forma, a angústia digital apenas servia de gatilho para essas pessoas ficarem mais tempo engajadas nas telas, em vez de simplesmente saírem.
O final da história, nem preciso comentar: a permanência contínua, apesar do desgaste, cria uma maior probabilidade de desenvolver dependência de tecnologia, pois esses indivíduos acabam expostos a vários outros estímulos (e, pior, por um período de tempo maior), em vez de simplesmente fazer algo alternativo.
Para se pensar
Se o uso das redes sociais, acima de tudo, não visarem qualidade, bem-estar e uso consciente, a chance de as pessoas se perderem dentro dessas plataformas digitais será imensa, pois um efeito looping viciante poderá ocorrer rapidamente.
Uma pesquisa conduzida no Reino Unido com 5 mil estudantes revelou que (2):
- 2/3 estariam mais felizes se as redes sociais nunca tivessem sido inventadas;
- 57% recebeu comentários abusivos online;
- 56% se sentia prestes a se tornar dependentes das mídias sociais e, finalmente;
- 52% sentia que as mídias sociais faziam com que se sentissem menos confiantes a respeito de como são vistos e de quem são realmente.
Lembremos que é fácil observar os tipos de estresse ligados às redes sociais: (a) quando as mídias invadem nossa vida pessoal, ou seja, nossa intimidade sendo demasiadamente exposta, (b) quando somos "forçados" a nos adaptar ("corresponder") às demandas dos amigos virtuais, isto é, responder as perguntas, devolver as curtidas etc., (c) "necessidade" de fazer postagens excessivas –nem vou comentar – e, finalmente, (d) ter de ficar continuamente atualizando nossos perfis com novas informações.
Conclusão
Assim sendo, para concluir nossa conversa, vai aqui minha dica: tente REGULAR o uso dessas plataformas (lembre-se: o problema é o nosso descontrole). E, caso não esteja experimentando boas sensações ao navegar e interagir com os amigos virtuais, DESCONECTE-SE, e converse com colegas ou familiares a respeito dos problemas que esteja enfrentando.
Cuidado para sua diversão não virar um enorme problema a ser resolvido depois.
Referência bibliográfica
Sobre o autor
Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.
Sobre o blog
Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!