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Efeitos do uso excessivo da internet e dos videogames sobre a memória

Dr. Cristiano Nabuco

11/04/2016 08h00

Fotolia – Monkey Business

Sabe-se que a grande maioria dos adolescentes dispendem um tempo expressivo de seu dia (principalmente à noite) utilizando videogames, celulares, internet e eletrônicos de todos os tipos, na intimidade de seu quarto, inclusive quando deitados, o que retarda de maneira significativa a entrada no ciclo do sono.

Já é bem documentado que o sono é vital na manutenção do equilíbrio e do bem-estar, além de ocupar um papel fundamental na consolidação e performance da aprendizagem e da memória.

Veja só: os videogames aumentam de maneira expressiva algumas variáveis metabólicas e fisiológicas, incluindo uma grande estimulação no sistema nervoso central.  Diferentemente, por exemplo, de outras plataformas onde se interage de maneira mais relaxada, nos games se registra o aumento dos batimentos cardíacos, da pressão sanguínea, respiração, supressão momentânea de alguns processos digestivos, dentre outros, o que interfere pontualmente na qualidade do sono subsequente. (1)

Algumas concepções entendem que um alto nível de emoções – a exemplo do que é vivido nos jogos virtuais – pode prejudicar, inclusive, o processo de aprendizagem. Como o conhecimento adquirido ao longo do período de vigília ainda está sob consolidação, a intensidade emocional decorrente dessa estimulação noturna pode interferir de maneira significativa na capacidade de nossos jovens. Como os games produzem desafio, surpresas, excitação e, principalmente, a frustração, todas essas alterações são acompanhadas de importantes mudanças fisiológicas.

Estudos de PET SCAN (tomografia por emissão de pósitrons) mostraram uma expressiva liberação de dopamina e norepinefrina durante o uso de videogames, o que, diga-se de passagem, são os mesmos neurotransmissores envolvidos no processo de aprendizagem.

Numa pesquisa com crianças em idade variando entre 10 e 14 anos, evidências demonstraram que apenas uma noite com restrições de sono já seria o suficiente para enfraquecer as funções cognitivas de maneira importante. (2)

Entende-se que durante as fases do sono REM (movimento rápido dos olhos) e do sono de ondas lentas é que se daria a consolidação do processo no qual a memória do cotidiano seria fixada. (3)

Portanto, uma vez que os videogames reduzem a quantidade do sono de ondas lentas, a consolidação da memória fica então seriamente prejudicada. (4)

Além disso, uma vez que mais tempo de frente ao vídeo pressupõe menor tempo destinado às atividades físicas – que tem uma das consequências afetar positivamente as estruturas cerebrais e melhorar as performances acadêmicas (concentração etc) -, estima-se que essa redução poderia também afetar a saúde física ao aumentar o cansaço e reduzir conjuntamente a prontidão atencional dos jovens no dia seguinte.

Conclusão

Por que será então que os problemas na escola e a baixa performance acadêmica estão se tornando cada vez mais frequentes junto aos adolescentes? Apenas decorrente das questões pedagógicas da escola é que não é, correto?…

Os pais deveriam hoje, mais do que nunca, procurar saber o que ocorre na vida digital de seus filhos e, assim, ajudar a zelar por uma melhor qualidade de vida de nossos pequenos.

Não é apenas porque estão na segurança "do quarto" e "entretidos" que as coisas necessariamente estão indo bem.

Pense nisso.

 

Referências

 (1) Wang X, Perry AC. (2006). Metabolic and Psysiologic Response to Video Game Play in 7- to 10-year old boys.       Arch Pediatr Adolesc Med, 160:411-415.

(2) Radazzo AC, Muehlback MJ, Schweitertzer PK, Walsh JK. (1998). Cognitive Function Following Acute Sleep Restriction In Children ages 10-14. Sleep, 21:861-868.

(3) Hasselmo ME. (1999). Neuromodulation: Acetylcholine and Memory Consolidation. Trends Cogn Sci, 3:351-359.

(4) Dworak M, DiplSportwiss, Schierl T, Bruns T, Struder HK. (2007). Impact of Singular Excessive Computer Game and Television Exposure on Sleep Patterns and Memory Performance of School-Aged Children. Pediatrics, 120:978-985.

 

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Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!