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Estresse e a perda de memória

Dr. Cristiano Nabuco

15/03/2016 08h00

Fotolia – milanmarkovic78

Pois é, já não é de hoje que ouvimos centenas de consequências decorrentes dos estados de estresse junto ao nosso organismo: arritmias, infarto e avc, hipertensão arterial, aumento da glicemia e colesterol, depressão, queda do sistema imunológico, além de vários outros.

O que possivelmente você ainda desconhecia é o fato de que o estresse contínuo – aquele que você "naturalmente" se acostuma – pode levar também a problemas mais sérios de memória.

Um estudo que acaba de ser publicado demonstrou a relação entre a memória de curto prazo e estresse prolongado.

Utilizando uma pesquisa com modelos animais (ratos) em um labirinto experimental, cientistas introduziram no ambiente, que antes era tranquilo, um rato intruso bem maior e, para aumentar o desconforto, o fizeram de maneira repetida com a passagem do tempo.

Aqueles ratos que foram constantemente expostos ao intruso agressivo, apresentaram um comportamento bastante curioso: eles, na tentativa de fuga, levavam muito mais tempo dentro do labirinto para lembrar onde estava o buraco de fuga (se comparado ao tempo anterior sem a presença do predador no ambiente).

Além disso, os roedores perturbados também apresentaram alterações significativas em seu cérebro, incluindo evidências concretas de inflamação, supostamente causada pela resposta do sistema imunológico à pressão do ambiente, visível pela presença de células imunes, chamadas macrófagos, no cérebro dos ratos estressados.

Além da dificuldade de se lembrar para onde fugir, sabe por quanto tempo a memória dos roedores permaneceu afetada? Os ratos estressados levaram nada menos do que 28 dias, após o término do experimento, para se recobrar de suas lembranças.

Como se isso já não bastasse, além da erosão da memória, os pesquisadores perceberam que os animais perturbados mostraram expressiva evitação social (diminuição do contato com outros ratos) que, aliás, permaneceu ainda ativa após as quatro semanas de acompanhamento (leia-se: provocando deficiências psicológicas mais duradouras).

Conclusão

Os achados nos fazem pensar então que, muito além dos "velhos problemas" ocasionados por um modo de vida pouco saudável, estar sob pressão pode causar danos também ao nosso cérebro. Assim, se os resultados da pesquisa acima puderem ser replicados em humanos, seria bom ficarmos atentos.

Ao levarmos uma vida "agitada" demais, longe de ser algo normal, abrimos espaço para que problemas cognitivos (decorrentes da perda de memória) possam, ainda mais, impactar nossa mente e nosso humor.

Vamos prestar mais atenção em nossa qualidade de vida? Sua memória agradece.

 

Fonte

http://www.jneurosci.org/content/36/9/2590

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Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!