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O dano emocional da infidelidade

Dr. Cristiano Nabuco

11/02/2015 08h00

© Hortigüela – fotolia

Nos dias de hoje, em que tudo se tornou relativo, creio ser uma tarefa das mais difíceis ter uma opinião conclusiva a respeito de várias questões que permeiam nosso cotidiano. Desde como educar filhos, compreender as distintas práticas religiosas, políticas e, finalmente, ter uma ideia formada a respeito dos relacionamentos afetivos se tornou uma tarefa bastante espinhosa.

Nesse mar de ambiguidades, onde tudo se tornou aparentemente permitido, adotar uma conduta ou um comportamento claro não é nada fácil.

É exatamente nesse cenário que muitos parceiros traem seus cônjuges, tornando-se infiéis. Baseados em pseudodesculpas, o adultério toma seu assento e vira um verdadeiro fantasma para a relação a dois.

Uma publicação conhecida com o título "Descobrimento Sexual do Brasil" revelou dados alarmantes sobre o perfil de infidelidade dos brasileiros, homens e mulheres. (1)

A prevalência de um caso entre 6846 participantes da pesquisa mostrou que 50,6% dos homens brasileiros admitiram ter tido um envolvimento com outra mulher, enquanto que 25,7% das mulheres admitiram ter tido relacionamento com outro homem. Ou seja, em cada 100 homens casados, no Brasil, 50 tiveram um "caso" e em cada 100 mulheres casadas, quase 26 também tiveram relação extraconjugal.

Assim, seja através da traição virtual que, muitas vezes, segue para a vida real ou, se você preferir, no caso daquelas relações fortuitas e inacabadas que se mantém com a passagem do tempo, uma coisa é fato: cria-se um padrão contínuo de segredos e mentiras que tem como pano de fundo o engano e a desconfiança. (2)

Infelizmente, a maioria das pessoas que decidem quebrar seu voto de monogamia, embora intuitivamente saibam dos danos, não percebem os efeitos profundos que seu comportamento pode criar sobre a vida emocional do cônjuge.

© ivolodina – fotolia

Outro estudo publicado no Sexual Addiction & Compulsivity  revelou que as esposas dos homens que possuem um alto padrão de infidelidade, quando confrontadas aos eventos de deslealdade de seus parceiros, experimentam sintomas de estresse semelhantes aos vividos pelos indivíduos com o transtorno de estresse pós-traumático – aquele presente em pessoas que sofreram com eventos como sequestros, guerras ou cataclismas naturais – um verdadeiro trauma. (3)

Não é a toa que pessoas que passaram por essa experiência descrevem a descoberta como se "uma faca tivesse atingido seu coração". Assim, o dano emocional causado pela infidelidade pode ser de difícil superação, mesmo com a ajuda especializada.

Conclusão

No entanto, acredito que se ambos os parceiros estão, efetivamente, comprometidos com o restabelecimento da confiança e da mudança mútua de comportamento, é possível que um relacionamento possa sim, ser salvo, apesar da ocorrência de um caso. Estão aí os profissionais de saúde para auxiliar e as pesquisas para mostrar que é possível.

Entretanto, para outras pessoas, a violação da confiança (reiterada ou não) torna-se devastadora, impedindo que a reconstrução da segurança emocional possa ser readquirida.

Em minha prática clínica, já testemunhei casos onde o trauma repetido foi tão intenso que teve o poder de modificar a personalidade desses parceiros traídos [leia mais em (4)].

Portanto, antes de seguir por esse caminho, pare e pense. Se um relacionamento se tornou tóxico, faça algo por ele (e por vocês que o integram) e, assim, aja de maneira clara e verdadeira.

Entendo que a vida, às vezes, nos prega peças e ter que sair de certas armadilhas pode não ser uma tarefa fácil, entretanto, ainda que tudo possa ser relativizado hoje em dia, comporte-se, tendo sempre em mente sua dignidade pessoal – esse princípio revela-se um importante norte em nossa vida.

Referencias

(1)http://www.gruposummus.com.br/gruposummus/livro//Descobrimento+Sexual+do+Brasil

(2) http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2013/04/12/as-redes-sociais-podem-arruinar-seu-relacionamento/

(3)http://www.iitap.com/documents/ARTICLE_TraumaticNatureOfDisclosureFor%20Wives%20of%20SA-Steffens&Rennie.pdf

(4)http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2014/05/21/saude-mental-relacionamentos-amorosos-afetam-a-personalidade/

 

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Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!