Dr. Cristiano Nabuco http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 28 anos. Sat, 14 Nov 2020 12:25:03 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O que aprendemos na quarentena? Veja algumas lições que podemos tirar http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/06/09/o-que-aprendemos-na-quarentena/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/06/09/o-que-aprendemos-na-quarentena/#respond Tue, 09 Jun 2020 07:00:03 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2539

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Uma coisa é fato: todos nós, de alguma forma, sairemos diferentes dessa longa experiência de reclusão e de isolamento social. Além das questões envolvendo os debates políticos, econômicos e, obviamente, os temas ligados à saúde pública que, cá entre nós, se repetem à exaustão, colaborando com o desenvolvimento de altíssimas doses de estresse individual, me parece que os efeitos psicológicos da pandemia passam ao lado e estão completamente descolados do imaginário coletivo. É como se a subjetividade humana simplesmente não existisse e, assim, não fosse importante de ser discutida.

Claro, façamos justiça ao excetuar as tímidas contribuições que vemos na mídia como um todo, ao alertar sobre o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão, aumento das taxas de tentativas de suicídio, estresse pós-traumático, o aumento da tensão familiar etc; todavia, aqui reside uma questão maior: na maioria das vezes, deixam-se de lado as aprendizagens positivas que estão sendo propiciadas por todo esse momento.

Você já se perguntou, por exemplo, como irá agir (internamente falando) a partir de todas essas vivências que está sofrendo? Ou ainda: o que tudo isso estará, de verdade, lhe ensinando? Muitas coisas podem ser levadas adiante como importantes lições de vida.

Eu explico.

A primeira lição é a de que o momento presente é extremamente valioso. Veja só, “sabemos” disso faz tempo, mas creia, essa é umas das primeiras vezes que, efetivamente, vivenciamos essa experiência de maneira mais prolongada. A ciência psicológica muito nos ensinou a respeito das práticas do mindfulness, ou seja, da importância de aumentarmos nossa relação com a experiência em curso como um importante recurso de ajuste de nosso bem-estar.

Usualmente, vivemos pensando no dia de amanhã, na próxima sexta-feira, na viagem que faremos em breve, nas tão merecidas férias e, assim, o dia de hoje simplesmente evapora e se torna mais um obstáculo a ser superado com pressa, muita pressa – na verdade, ele virou apenas “um detalhe”. Isso faz com que criemos um tipo de “visão em túnel”, deixando de lado importantes questões pessoais, por exemplo, “como estou me sentindo hoje?” ou, “meu trabalho ainda me encanta?” ou, “estou satisfeito com o que conquistei na vida?”.

Ao que tudo indica, viver voltado para o futuro nos ajudou a criar um tipo de anestesia emocional a respeito de tudo aquilo que não está bem dentro de nós, deixando-nos, psicologicamente, fora de foco. Arrisco dizer que, não apenas anos se passam, mas, em muitos casos, décadas, até que começamos a prestar um pouco mais de atenção em como, de fato, estamos verdadeiramente nos sentindo.

A pandemia nos ensinou, portanto, que o dia de hoje é muito importante e merece ser vivido em sua plenitude, pois, literalmente, é a única coisa que temos nas mãos, pois já não temos o mínimo controle a respeito do que a covid-19 fará com todos amanhã (acabou-se o controle e o manejo dos planos futuros). Em função disso, tenho me surpreendido com o número de pessoas que estão se dizendo, inclusive mais animadas – apesar de todos os problemas – por poderem voltar-se para as coisas esquecidas nos armários e até nas gavetas da alma e, mais que isso, por terem interrompido sua vida ao poderem perceber o quanto que a vida cotidiana estava longe (muito longe) de ser representativa (claro, não estou falando aqui daqueles que não tem onde morar ou o que comer).

Aprendemos também uma outra coisa importante: de que a relação com nosso trabalho pode e deve ser urgentemente repensada. A maioria das pessoas – incluindo eu mesmo – estão imaginando como será o tão falado “novo normal” que, possivelmente, deverá ser muito diferente, não por conta da pandemia, mas pelas mudanças pessoais que tomarão lugar. Muitos, tenho ouvido, dizem que não irão trabalhar como antes, pois se perdeu o “velho” sentido.

E as relações familiares? O que percebemos? Descobrimos que muito daquilo que tanto nos importunava, na verdade, era muito mais proveniente de nossa falta de tempo ou de paciência do que propriamente decorrente das pessoas à nossa volta (que precisam, na verdade, apenas de um pouco de atenção). A pandemia, assim, nos abriu uma possibilidade de olharmos nos olhos dos outros, de vez em quando, descobrir que, como nós, eles também estão inquietos e assustados e que, na verdade, “estar bem” também se relaciona com nossa capacidade de poder ajudar os outros a se sentirem, igualmente, um pouco melhor.

E, finalmente, descobrimos que podemos viver com as mesmas roupas por dias, pois são poucas aquelas que efetivamente nos trazem o verdadeiro conforto emocional. Não precisamos de vários sapatos ou de um guarda-roupas muito representativo e, o mais interessante, quando percebemos que quando paramos de comprar aquilo que não era importante, o mundo lá fora colapsou.

Assim, a lição que fica é a de que devemos viver um dia de cada vez, prestando um pouco mais de atenção aos detalhes e, desta forma, tirando o máximo de proveito possível de cada gesto ou ato. Ao fazermos isso, estaremos emocionalmente mais presentes para poder realizar os ajustes de percurso que são importantes e, finalmente, voltar a fazer as verdadeiras conexões conosco e com as pessoas que realmente importam à nossa volta.

Eu não sei como você tem se sentido, mas essa experiência poderá nos devolver uma leveza que não sentíamos faz muito tempo. Como diz aquele velho ditado: a vida é muito mais simples do que parece… e, se está difícil, é porque a fazemos assim.

Pense nisso.

Afinal: o que você aprendeu na quarentena?

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Difícil de aceitar a covid-19? 5 estágios do luto ajudam a explicar por quê http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/as-fases-psicologicas-de-aceitacao-da-covid/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/as-fases-psicologicas-de-aceitacao-da-covid/#respond Tue, 19 May 2020 07:00:19 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2531

Kristina Tripkovic – Unsplash

Trabalhando com a psicologia humana há quase quatro décadas, tenho aprendido bastante a respeito de como nossa mente reage frente às situações de grande estresse.

A psiquiatra Elizabeth Kluber-Ross há tempos descreveu as fases do luto, ou seja, os estágios pelos quais passamos, quando somos impactados com grandes perdas emocionais. E aqui vale uma análise, à luz da covid-19 e dos impactos que a doença causou em nossa vida.

Invariavelmente, segundo ela, adotamos uma posição inicial de negação do ocorrido, como se tivéssemos a necessidade de ganhar um tempo extra para a acomodação das coisas e assim podermos absorvê-las com mais facilidade, apesar do dissabor e da interrupção criada na vida. Isso explica, em parte, a razão pela qual muitas pessoas ainda, no momento atual, se recusam a aceitar os impactos que a pandemia vem nos causando no cotidiano. Muitas delas, dessa forma, continuam a viver como “se nada” de mais importante, de fato, estivesse acontecendo, apesar das evidências ao contrário. Estas minimizam as mortes, dizendo, por exemplo, que a doença, se é que existe, é fruto de uma grande teoria chinesa da conspiração para a supremacia e domínio mundial, por exemplo.

Outros, por sua vez, já tendo assimilado os fatos que compõem a nova realidade, reagem, caminhando adiante, em direção ao segundo estágio da compreensão do fato, que é, invariavelmente, marcado pela presença de sentimentos de raiva e de indignação a respeito dos acontecimentos. Estes, por sua vez, não hesitarão em culpar as autoridades por sua inoperância frente à covid-19 ou ainda pelo fato de ser impossível ficar restrito dentro de casa por longos períodos de tempo, pois, afinal, a “vida precisa continuar”. São esses, inclusive, que vemos nas ruas, insistindo em agir como se nada de mais significativo estivesse ameaçando-os efetivamente e, mais, se recusam a ficar em casa, achando motivos dos mais variados para furarem os isolamentos sociais.

No caminho da mudança psicológica, alguns outros exibirão um comportamento de barganha, ou seja, a mente individual começa a criar uma interpretação ficcional da covid-19, tentando achar métodos de controle do vírus, isto é, em tal fase as pessoas acreditarão que certas ações poderiam vir a anular a letalidade da pandemia. Talvez acreditando que elas são, particularmente, mais fortes ou até invulneráveis à doença e, embora sabendo bem dos riscos, seu pensamento mágico os faz, por exemplo, sair às ruas sem máscaras ou sem tomar os cuidados recomendados para sua proteção individual ou familiar. Neste ponto, a realidade é distorcida para caber em sua mente e em suas explicações fantasiosas da doença.

Na quarta fase de aceitação, provavelmente, a covid-19 não terá mais espaço para alegorias ou explicações paralelas e o presente poderá evocar uma profunda sensação de depressão e vazio existencial. Desta forma, o isolamento, finalmente emocional, vai ocorrer e a sensação de cansaço e profundo desânimo tomarão lugar no horizonte psicológico dessas pessoas. Muitas vezes, os sentimentos de desamparo serão tão expressivos que o indivíduo acreditará que não terá forças para sair da condição e assim poderá naufragar por momentos específicos ou por longos períodos de tempo.

Na última etapa da mudança psicológica, muitos poderão estar flertando com a aceitação da doença, entendendo ser importante que seja criada uma nova acomodação mental dos fatos e, para tal, efetivamente incorporam a mudança de realidade, agora compreendendo que a superação, em algum momento, trará alívio e que é momento de reorganizar as ideias e deixar o solo devastado para trás, dando a oportunidade para que a dor e o desconforto emocional possam ir, progressivamente, desaparecendo. Nesta fase, os indivíduos já absorveram a ideia do grande impacto que sofremos e começam, apesar de todos os reveses, a se preparar, pensando em como viver melhor no momento atual e ainda, se preparar mais construtivamente para contornar os efeitos que a pandemia nos impôs.

Para se pensar

Ao nos depararmos com as distintas fases de assimilação dos fatos, conforme relatado acima, conseguimos melhor compreender a razão pela qual ser uma das tarefas difíceis acreditar que todas as pessoas viverão igualmente um mesmo nível de entendimento e de compreensão daquilo que hoje nos afeta. Enquanto muitos estão na fase da negação, outros estarão na fase da depressão, por exemplo, enquanto outros ainda, já se encontrarão no momento da aceitação. Isso, portanto, nos faz lembrar que o trânsito emocional ocorre de maneira distinta e particular de pessoa para pessoa – com tempos de duração e de intensidades diferenciados – fazendo da compreensão social ampla e igualitária uma condição bastante rara de ser atingida.

Com isso tudo exposto, aprendi na prática da psicoterapia que tudo na vida sempre traz um outro lado da moeda às pessoas, ou seja, os grandes dilemas humanos com os quais a maioria das vezes nos deparamos e que trazem grandes doses de sofrimento, na verdade, também oferecerão importantes janelas de oportunidades e maturação pessoal. Isso quer dizer que, com raras exceções, a maioria das pessoas usualmente consegue sair mais fortalecida das adversidades e penso eu, particularmente, ser esse momento de pandemia um momento único de amadurecimento.

Eu explico.

Tanto as pessoas que estão se sentindo mal com tudo que está acontecendo como aquelas que estão lidando melhor – até bem, eu diria , com esse momento, levarão importantes lições de vida. Excetuando aquelas que sofrem pela doença ou que não dispõem de recursos econômicos para o dia de amanhã, o mal-estar que a covid-19 está trazendo é um poderoso convite à transformação pessoal.

No caso de estarmos nos sentindo muito mal, vale dizer que, usualmente, temos uma dificuldade muito grande de olhar para as nossas atribulações e, assim, lançamos mão de uma série de recursos de proteção como, por exemplo, trabalhar em excesso para não sentir as angústias, comprar desnecessariamente para se distrair das sensações ruins, consumir álcool ou drogas e uma série de outros comportamentos que visam anestesiar o sofrimento pessoal. Todavia, trancados em casa, os véus do autoengano mandatoriamente começam a cair, pois a vida, como nunca, estacionou completamente, nos trazendo a possibilidade de olharmos para nós mesmos de uma maneira mais lúcida e objetiva. Estamos, na verdade, de frente para o espelho de nossa existência e nele será refletida, sem os subterfúgios psicológicos do cotidiano, a vida real como ela é.

No outro extremo, ou seja, junto àqueles que estão se sentindo bem, percebeu-se que o confinamento descortinou novas formas de existir, isto é, como se pudessem agora mais facilmente constatar que viviam em um tipo de “prisão às avessas”, ou seja, aquilo que na verdade era tido como a realidade comum/normal de seu cotidiano, no fundo, era uma forma de limitação e de aprisionamento. Muitos, assim, estão se sentindo livres das obrigações e da vida engessada, apesar das dificuldades que a pandemia lhes traz, pois agora podem olhar para dentro e perceber o quanto que a vida “normal”, no fundo, era profundamente insatisfatória.

Portanto, seja para os que estão se sentindo bem, como para aqueles que estão se sentindo mal, creio que grandes mudanças começarão a tomar lugar dentro de cada um e, no final das contas, essa metamorfose pessoal em larga escala será responsável por profundas transformações sociais. De fato, talvez não estejamos vivendo o final do mundo, como muitos acreditam ser, mas, na verdade, um novo grande começo individual e coletivo da humanidade.

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Descoberta nova técnica de manejo do estresse http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/descoberta-nova-tecnica-de-manejo-do-estresse/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/descoberta-nova-tecnica-de-manejo-do-estresse/#respond Tue, 21 Apr 2020 07:00:11 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2522

Crédito: iStock

Desnecessário dizer que a vida no cotidiano não é das atividades mais fáceis. Somos bombardeados por todos os lados, ininterruptamente, sendo solicitados a agir de uma maneira razoável e sensata. E, pode apostar, há algo ainda mais difícil a ser considerado: muitas vezes temos de tomar decisões que envolvem a vida de terceiros, o que faz de nosso equilíbrio psicológico um bem extremamente valioso a ser mantido.

Não importa se você ocupa um papel maior ou menor, nesse cenário em que nossa vida moderna se desenrola, é inevitável escorregar, não há muita escolha. E, de olho nesse processo, muitos “especialistas” propõem estratégias de manejo e redução do estresse que, no final das contas, eu lhe digo, como profissional da área, pouco ajudam, a não ser aumentar a pressão interna de autocobrança e de culpa pelas decisões inadequadas.

A partir desse cenário, uma pesquisa se debruçou sobre uma nova técnica que pode nos oferecer um poderoso recurso no comando psicológico individual. (1)

Eu explico.

É sabido por todos que, à medida que vamos crescendo, desenvolvemos um “diálogo interno” mental que funciona como um tipo de “gestor”, no qual nossas problemáticas são apresentadas e avaliadas e onde ocorre esse processo de incubação intelectual de onde partem nossas decisões. Você pode ter alguma consciência a respeito ou, no pior das hipóteses, nem se dar conta, entretanto, é exatamente assim que ocorre em nossa mente, por ação de nosso pensamento.

Nesse “espaço”, por assim dizer, nos preparamos para certas apresentações, ponderamos sobre diferentes escolhas e repensamos as coisas que dissemos ou fizemos –tudo por meio de uma narrativa interna de autoconhecimento.

Muitas vezes, entretanto, nossas emoções criam marolas que impedem um raciocínio mais límpido e claro, turvando uma avaliação mais isenta dos fatos.

Caso você não saiba, em processo de tomada de decisões, sempre estará em foco um sutil jogo de forças: uma, proveniente de nossa amígdala cerebral (que é região mais primitiva de nosso cérebro e de onde as emoções são originadas), e outra derivada de nosso córtex pré-frontal (região mais recente em nossa evolução e onde se dá a lógica formal dos fatos). (2)

É assim que ocorrem as tentativas de acomodação, ajuste ou síntese entre as duas fontes de informação (emoção e razão) no enfrentamento diário dos problemas.

E aqui vai a importante questão: como manter esse “precioso equilíbrio” para que nosso comportamento possa estar sempre em harmonia?

Simples, eu lhe digo.

Cada vez que você estiver experimentando uma situação mais complexa, digamos, ter uma dúvida a respeito de como agir em uma determinada situação mais carregada de tensão, experimente conversar com você em terceira pessoa.

Vamos novamente.

Uma pesquisa científica sugeriu que conversar com você mesmo na terceira pessoa –silenciosamente, em sua própria cabeça — pode ajudar a regular as emoções. E mais, esse  diálogo interno pode ser mais útil do que conversar conosco na primeira pessoa. Por exemplo, em vez de dizer “eu tenho um problema a ser resolvido”, procure pensar da seguinte forma: “fulano –no caso, utilize seu nome –, tem um problema que precisa ser solucionado”.

O diálogo interno silencioso na terceira pessoa –referindo-se a nós mesmos pelo nome e como “ele ou ela” em vez da primeira pessoa “eu” –é uma ferramenta poderosa para regular as emoções.

Os cientistas descobriram, por meio de exames de eletroencefalografia e de ressonância magnética funcional (fRMI), que a conversa interna na terceira pessoa ajuda as pessoas a ganharem um pouco de distância psicológica emocional para refletir sobre seus próprios pensamentos e sentimentos, ou seja, é como se estivéssemos tratando de pensamentos e sentimentos a serem dados a outra pessoa.

Conjetura-se que essa estratégia, na verdade, tem o poder de diminuir a intensidade do processamento da amígdala cerebral, isso é, de onde nascem as emoções. (1)

Assim sendo, vai aqui a minha dica: da próxima vez que tiver algum impasse emocional, ou seja, alguma dúvida a respeito de como agir, em vez de pensar em como você deveria se comportar, pense “no que você falaria” para um amigo que está em apuros (o que você pensa, como avalia a situação e, finalmente, qual conselho ofereceria).

Repasse essa conversa mental ou verbalmente, dê suas opiniões e dicas e, assim, veja o que isso poderá resultar em suas emoções. Tenho certeza de que você se surpreenderá muito ao descobrir o quanto que raciocinar na terceira pessoa pode lhe auxiliar no manejo do estresse, na diminuição das emoções mais intensas e, finalmente, no aumento do repertório pessoal de respostas de enfrentamento.

Faça essa experiência e me diga.

Tenho certeza que esse será um significativo recurso a ser usado pelas pessoas a lidarem melhor com o estresse.

 Referências

  1. https://doi.org/10.1038/s41598-017-04047-3
  2. https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2014/06/25/entendendo-nossas-emocoes-do-passado-ao-presente/

 

 

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O que a quarentena revela a seu respeito? http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/04/07/o-que-a-quarentena-revela-a-seu-respeito/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/04/07/o-que-a-quarentena-revela-a-seu-respeito/#respond Tue, 07 Apr 2020 07:00:40 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2516

Anthony Tran by Unsplash

Em tempos de reclusão prolongada que hoje decorre da pandemia que enfrentamos, é muito fácil notar as mais distintas reações emocionais manifestas pelas pessoas, na tentativa de enfrentar o longo período de isolamento que vivemos e, pior, que seguirá adiante.

Muitos, de alguma forma, afirmam se sentirem felizes pelo fato de as rotinas exaustivas do cotidiano, tão pesadas de serem enfrentadas, estarem subitamente suspensas, dando a impressão de se viver um tipo prolongado de férias. Esses, inclusive, já pensam nos cursos online que poderão ser feitos, além de rara oportunidade de obter um descanso merecido.

Outros, um pouco menos otimistas, entendem que o tempo a frente trará importantes desafios emocionais e econômicos a serem superados e, de maneira legítima, permanecem mais cautelosos, vivendo um tipo de compasso temporal, à espera de alguma nova informação, enquanto que, finalmente, um terceiro grupo entende que a restrição imposta, na verdade, é um pesadelo sem precedentes a ser manejado, trazendo desorganização pessoal e grandes doses de angústia (estou excetuando aqui as pessoas que sofrem em decorrência das preocupações econômicas reais e do convívio nos espaços muito reduzidos).

Assim sendo, a quarentena da covid-19, no final das contas, tem demostrado grande vigor quando o assunto é evocar, no imaginário e na vida psicológica das pessoas, reações emocionais impactantes e, o pior, para muitos, expondo as dificuldades de se lidar com o estresse.

Ocorre que a vida cotidiana, da maneira que a conhecemos hoje, nos oferece um estilo de vida sem precedentes, pois é preenchida completamente por número expressivo de atividades que nos absorve e nos distrai completamente do convívio com nossas emoções. São exercícios e academias lotadas ao raiar do dia, trânsito frenético, excesso de contas e de atribuições laborais e acadêmicas, desafios autoimpostos e, claro, em muitos casos, uma família a ser assistida.

De tempos em tempos, quando momentos agudos nos atingem, como a morte de alguém, a perda de um emprego, uma doença, conseguimos vagamente despertar da letargia existencial na qual nos encontramos. Entretanto, a pandemia que estamos vivendo nos está oferecendo uma oportunidade única de vermos nossas engrenagens emocionais em pleno funcionamento, aquelas que, muitas vezes, tanto nos esquivamos de olhar.

Usando uma metáfora, é como se a energia elétrica do carrossel da vida fosse repentinamente interrompida, deixando-nos no ar, agora sem as ilusões do movimento e das luzes de encantamento dos brinquedos da vida.

E vai aqui uma pergunta: O que você acha que esse momento lhe revela?

Vou lhe dizer que revela algo bem simples, mas, ao mesmo tempo, muito profundo.

Eu explico.

Essa interrupção da vida deixa transparecer aquilo que, da maneira mais honesta possível, todos nós somos do ponto de vista mais visceral possível, isto é, a falta da energia também paralisa a ilusão, aquilo com o qual estamos nos distraindo ao longo da vida e que, possivelmente, damos pouca atenção ao que realmente importa.

Vamos de novo.

Se somos visitados por uma ansiedade, um tédio incomensurável ou qualquer reação que não faz bem ao ser colocado em contato com a quietude, muito provavelmente é porque a vida que estamos levando não tem nos abastecido de experiências verdadeiras e significativas, fazendo do vácuo temporal da paralisação do cotidiano uma terrível experiência, ao trazer um insuportável reflexo em nosso espelho psicológico mais profundo.

Aristóteles, em 322 a.C., já tinha essa mesma preocupação, ao indagar qual seria o único fim ou propósito final da vida, algo que não daria lugar a nenhuma outra coisa por trás. O nome dessa palavra em grego é εὐδαιμονία (escrevemos “eudaimonia”), que significa alcançar as melhores condições possíveis para o ser humano -em todos os seus sentidos -, e não apenas na obtenção da felicidade, ou seja, ao procurarmos desenvolver objetivo maior de se viver.

Muitas pessoas, em meu consultório, quando indagadas a respeito do sentido da vida – na verdade, eu adoro lançar essa pergunta desconcertante -, respondem categoricamente “ser feliz”. Eu, prontamente, replico dizendo que, para mim, por exemplo, comer batatas fritas ou pizza me faz muito feliz (como uma série de outras coisas), entretanto, eu não sei se “floresço” ao fazê-lo –utilizando aqui uma expressão emprestada da botânica.

Acredita-se no mundo moderno que a “felicidade” esteja muito próxima ao conceito de “sucesso”, todavia, “florescer” relaciona-se muito mais a uma ideia de transitoriedade, isto é, uma espécie de ênfase no processo, muito mais do que no produto final.

Assim, para que uma tranquilidade psicológica possa ser alcançada, efetivamente, precisamos fazer o nosso papel e, portanto, concretizar, da forma mais pura, todos os nossos potenciais.

Se a reclusão do novo coronavírus e a mudança súbita de rotina tem lhe deixado atônito, perdido ou confuso, ousaria dizer que você não tem “florescido” como realmente deveria.

Eu sei, não é simples, mas eu lhe digo, precisa ser pensado com muita seriedade.

Não deixe a vida passar. A covid-19, no final das contas, é uma poderosa provocação a essa reflexão.

“Você não é produto das circunstâncias, você é produto das suas decisões”, Viktor Frankl.

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Conheça os impactos psicológicos do isolamento em casa e como reduzi-los http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/os-impactos-psicologicos-da-quarentena-e-como-reduzi-lo/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/24/os-impactos-psicologicos-da-quarentena-e-como-reduzi-lo/#respond Tue, 24 Mar 2020 07:00:49 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2510

Foto de Ethan Sykes – Unsplash

Quarentena é a separação e restrição de movimento de pessoas que foram potencialmente expostas a uma doença contagiosa, com o objetivo de averiguar se estão, efetivamente, doentes, reduzindo assim o risco de contaminação de outras pessoas. (1)

Esta definição, entretanto, difere do isolamento, que é a separação de pessoas que já foram diagnosticadas com uma doença contagiosa, visando preservar a integridade daquelas que ainda não estão doentes, entretanto, os dois termos – quarentena e isolamento – são frequentemente usados como sinônimos.

Na verdade, a palavra quarentena foi usada pela primeira vez em Veneza, Itália, em 1127, em relação à hanseníase, e depois amplamente utilizada novamente em resposta à Peste Negra. (1)

Atualmente, a partir dos problemas recentes da covid-19 e novo coronavírus, muitas cidades ao redor do mundo têm utilizado esse recurso como forma incisiva de se tentar reduzir a disseminação da doença, todavia, essa não é a primeira vez que essa ação é colocada em prática. A literatura especializada relata que em certas regiões da China e do Canadá, por exemplo, adotaram a prática durante o surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003, assim como em alguns países da África durante o surto de Ebola em 2014. (1)

Embora a saúde física seja o principal objetivo do resguardo, fica a pergunta: qual seria o impacto psicológico sofrido por aqueles que são obrigados a se afastar de tudo e de todos?

Por experiência própria, estamos começando a sentir na pele que essa será uma fase, do ponto de vista emocional, muito difícil; nesse sentido, os benefícios potenciais da quarentena em massa precisariam ser cuidadosamente ponderados frente aos custos psicológicos que a determinação acaba por cobrar de todos, indistintamente.

Consequências para a saúde mental

Quanto às quarentenas, uma pesquisa conduzida na Califórnia, junto a 398 adultos, que passaram pela reclusão, investigou as respostas psicossociais das crianças e seus pais frente aos desastres pandêmicos, onde se mediram especificamente as respostas ao estresse traumático em crianças e seus pais.

O resultado apontou que essas medidas foram traumatizantes para uma parcela significativa da população avaliada, ou seja, os critérios para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) foram atendidos em 30% das crianças isoladas ou em quarentena, com base nos relatórios dos pais, ou seja, 3 vezes maior do que as crianças sem confinamento, e em 25% dos pais em quarentena ou isolados, indicando serem, efetivamente, traumáticos. (1-2)

Outros estudos citam, por exemplo, que, além da presença do estresse pós-traumático, deu-se o surgimento na população reclusa de vários problemas emocionais, como a depressão, humor rebaixado, insônia, raiva, exaustão emocional e irritabilidade. Pessoas em quarentena, por estarem em contato próximo com aqueles que potencialmente teriam SARS no passado, relataram várias respostas negativas durante o período de quarentena: mais de 20% relataram medo, 18% relataram nervosismo e 18% relataram tristeza. (1-2)

Outra pesquisa se debruçou junto a uma amostra de 549 funcionários de um hospital em Pequim, China, em 2003, que haviam sido expostos a um surto de SARS, ao procurar avaliar os tipos de exposição ao surto e a eventual presença de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático e depressão. Os resultados mostraram que, com outros fatores relevantes controlados, ter passado pela situação (surto) aumentaram as chances de se viver um alto nível de sintomas depressivos três anos depois. (1-3)

Nesse outro estudo, foram examinadas 129 canadenses em quarentena e que responderam a uma pesquisa sobre a prevalência de sofrimento psicológico. Sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e depressão foram observados em 28,9% e 31,2% dos entrevistados, respectivamente (1-4)

No entanto, outras investigações não apontaram resultados significativos. Por exemplo, em um estudo conduzido em 2009, na província de Zhejiang, China, durante a epidemia de H1N1, comparou estudantes de graduação que haviam sido colocados em quarentena com aqueles que não haviam se submetido ao isolamento. Os sujeitos foram avaliados imediatamente após o período e não se encontrou significante diferença entre os grupos, no que diz respeito aos sintomas de pós-traumático ou de problemas gerais de saúde mental. (5) Supõe-se que os resultados negativos sejam devidos ao fato de que a população estudada era formada, basicamente, por estudantes jovens e não adultos empregados em tempo integral, o que sugeriria um menor impacto em suas responsabilidades. (1)

Principais estressores da quarentena

A duração é um dos elementos centrais. Alguns estudos mostraram que durações mais longas de quarentena foram associadas a um aumento da prevalência de sintomas de TEPT, além do conhecimento ou da exposição direta de alguém com diagnóstico de SARS, também estiveram associadas ao TEPT e a presença de sintomas depressivos. Uma publicação demostrou que aqueles que ficam em quarentena por mais de 10 dias têm chance de apresentar os piores sintomas de estresse pós-traumático, se comparados aos que ficaram resguardados por períodos menores de 10 dias. (1-6)

O medo de infecção também é descrito e presente em pessoas em quarentena. Tais preocupações são manifestadas em forma de temores sobre a própria saúde ou medo de infectar outras pessoas. Além disso, esteve mais presente a preocupação de se experimentar algum sintoma físico potencialmente relacionado à infecção, principalmente, junto às mulheres grávidas e aquelas com crianças pequenas. (1)

A frustração, tédio, confinamento, perda da rotina, redução da capacidade social e diminuição do contato físico com outras pessoas eram frequentemente relatados como presentes em indivíduos confinados. (1)

Não dispor de suprimentos adequados como, por exemplo, comida, água ou roupas, durante a quarentena, foi uma fonte de frustração, relatam duas publicações, o que causou aumento da ansiedade e a presença de raiva nos praticantes. Não conseguir cuidados médicos regulares e prescrições também foram relatados por alguns. (1)

E, finalmente, as informações imprecisas e inadequadas também aparecem como fonte de tensão, ou seja, muitas pessoas confinadas citaram informações precárias fornecidas por órgãos públicos e a falta de diretrizes sobre ações a serem tomadas. Por exemplo, após a epidemia de SARS em Toronto, os indivíduos relataram certa confusão nos temas ligados à saúde pública, devido à falta de coordenação entre as múltiplas jurisdições e níveis de governo envolvidos, o que fazia as pessoas temerem o pior. (1) O entendimento limitado de lógica individual também é uma poderosa barreira na compreensão dos problemas e, obviamente, também gera estresse, assim como a perda da renda e a incerteza econômica a respeito do futuro imediato. (6)

Conclusões

O impacto da quarentena é abrangente, substancial e pode ser duradouro, todavia, isso não sugere que a quarentena não deva ser utilizada como recurso de garantia para assegurar melhores níveis de saúde pública. Entretanto, pesquisas sobre efeitos psicossociais da quarentena, associados a pandemias globais (como aquelas associadas a SARS, por exemplo), indicam uma associação entre quarentena e níveis maiores de sofrimento emocional, ansiedade e sintomas de TEPT e, dentro dos períodos de reclusão mais longos, a presença do TEPT, trazendo sintomas mais graves.

Os cientistas também sugerem que, dentro do possível, todas as medidas precisam ser tomadas para garantir que a experiência da reclusão seja a mais tolerável possível às pessoas.

Segundo as investigações, isso pode ser alcançado ao se:

  • Dizer às pessoas o que está acontecendo e por qual razão ocorre;
  • Explicar quanto tempo a ação irá continuar;
  • Fornecer sugestões de atividades que possam ser feitas pelas pessoas enquanto a quarentena durar;
  • Prover uma comunicação clara e, dentro do possível, garantir suprimentos básicos (como alimentos, água e suprimentos médicos)

Todavia, vamos lembrar que, talvez, essa seja a parte mais difícil, pois nunca se viveu nada em uma esfera global como agora, o que confunde, aturde e desorienta qualquer pessoa ou governo.

Cuide de sua saúde física, mas não esqueça jamais de sua saúde mental. Nosso bem-estar é um conceito um pouco mais amplo do que apenas ficar resguardado e seguro dentro de casa. Os impactos psicológicos não podem, em hipótese alguma, ser desconsiderados dentro do que estamos vivendo hoje, frente à pandemia.

Referências bibliográficas
(1) https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30460-8/fulltext
(2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24618142
(3) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3176950/
(4) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3323345/
(5) https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0163834310002070
(6) https://www.doh.wa.gov/Portals/1/Documents/1600/coronavirus/PsychosocialLitReview.pdf
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Covid-19 e saúde mental: entenda como a pandemia afeta nossas emoções http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/efeitos-do-covid-19-em-sua-saude-mental-veja-dicas-para-lidar-melhor/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/efeitos-do-covid-19-em-sua-saude-mental-veja-dicas-para-lidar-melhor/#respond Tue, 17 Mar 2020 07:00:14 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2503

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Uma coisa é fato: o estresse ao qual estamos submetidos nesses dias, inevitavelmente, traz uma dose expressiva de ansiedade e, em certos casos, pode provocar reações mais intensas, como um pavor, em função das incertezas em relação ao futuro. São perguntas normais que as pessoas vêm se fazendo cotidianamente: Vou contrair a doença? Como posso me proteger e a minha família? O que é, efetivamente, mais indicado? O que vai acontecer com todos nós? Devo viajar? E meu trabalho? Enfim, são várias questões que colaboram com o aumento exponencial das inseguranças.

Pelo fato de o tema ser completamente desconhecido de todos, somado à falta de informação a respeito dos reais riscos e das ameaças, a busca contínua de informações confiáveis a respeito da doença entra na equação do estresse. Como somos uma sociedade que gosta de planejar e saber o que nos espera no futuro, essas interrupções, sem respostas em nossa rotina, contribuem para nos colocar no limite e nos empurrar para uma maior condição de instabilidade emocional.

Vale dizer, entretanto, que preocupações dessa natureza surgiram faz tempo com as patologias já bastante conhecidas por todos nós, incluindo a SARS, H1N1, dengue e demais problemas que nos afetaram. No entanto, a cobertura que a mídia está dando ao covid-19, somado à rápida proliferação da doença, faz com que percebamos o problema como sendo uma ameaça única em potencial, e não apenas uma dentre várias pelas quais já passamos, aumentando o risco de um medo pandêmico generalizado.

A literatura especializada já demonstrou que o pânico e estresse têm sido associados ao aparecimento de surtos e problemas de saúde pública em vários continentes, todavia, à medida que aumentam as preocupações com a ameaça percebida –reais ou imaginárias , as pessoas, não sabendo como reagir, começam a exibir comportamentos disparatados como, por exemplo, comprar e estocar de maneira compulsiva máscaras, álcool gel, papel higiênico, alimentos e demais suprimentos (de saúde ou não), como uma forma de preparo de enfrentamento à doença. E, geralmente, isso é seguido por condutas relacionadas ao aumento do sentimento de maior busca de proteção e mais ansiedade, mas também causando o aparecimento de problemas, como piora na qualidade do sono, acompanhado de uma sensação de instabilidade do estado geral de saúde da população.

Não é atípico, inclusive, que as pessoas comecem a buscar e transmitir de forma compulsiva mensagens através de WhatsApp e demais redes sociais a respeito da doença, na tentativa de alertar os grupos familiares sobre o risco iminente. Esse momento, infelizmente, é particularmente propício ao aparecimento de uma histeria coletiva a respeito do problema, confundindo ainda mais o discernimento daquilo que seria racional e sensato a ser adotado, com aquilo que é irracional e pouco verdadeiro como, por exemplo, o fato de muitas pessoas acreditarem ser o covid-19 apenas uma estratégia política ou social de manipulação de certos grupos, resultando em uma total displicência e incredulidade em relação às medidas de segurança.

As doenças crônicas, incluindo doenças infecciosas, como o aparecimento da tuberculose e do HIV, no passado, foram associadas a níveis mais expressivos de aparecimento de transtornos mentais, quando comparados à população geral em tempos de calmaria. Quando houve o problema com o antraz nos EUA, anos atrás, vale dizer, registrou-se um aumento significativo nas taxas de depressão naquele país.

E o pior, tem mais.

Como as autoridades sanitárias de vários países adotaram estratégias distintas de enfrentamento da doença, vivemos um estado ainda maior de insegurança, pois o cenário aparenta ser ainda mais incontrolável como, por exemplo, o despreparo exibido pela Itália e as consequências devastadoras que estamos testemunhando.

E, como se não bastasse a dimensão internacional do problema, somos expostos de maneira recorrente a opiniões e orientações de “especialistas” que, além de expressarem cenários apocalíticos, em muitos casos se mostram completamente contraditórios em suas avaliações, aumentando ainda mais nosso alarme emocional. Nada mais legítimo então do que se perguntar: “Se líderes e especialistas apresentam pouca consistência no manejo das coisas, o que será de todos nós, então?”

E a incerteza abrange mais do que questões de saúde, ou seja, as pessoas também não sabem se a escola de seus filhos fechará, se seus empregos se manterão, se conseguirão se organizar economicamente, se nossa cidade será bloqueada. Enfim, a ansiedade se soma à sensação de descontrole, como se não houvesse quase nada que pudéssemos fazer sobre todas essas coisas importantes. Resumo da conversa: o desconhecimento se soma às incertezas.

O que fazer então?

A angústia de covid-19 não apenas nos afeta, mas tanto é real que a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou diretrizes para proteger nossa saúde mental durante esse período conturbado.

Vamos a algumas dicas:

  1. Evite assistir, ler ou ouvir notícias de maneira descontrolada, principalmente, aquelas que podem nos deixar mais ansiosos e angustiados;
  2. Procure informações pontuais que busquem lhe fornecer medidas práticas e adequadas para proteger a si mesmo e a seus familiares;
  3. Ao buscar atualizações das notícias, faça-o em horários específicos –estabelecendo qual fonte de informações lhe parece ser mais confiável -, preferencialmente, uma ou duas vezes ao longo do dia, pois o acesso ao fluxo constante de informações sobre o covid-19 pode fazer com que você se sinta ainda mais ameaçado. E, finalmente,
  4. Como nosso sistema imunológico responde às nossas oscilações emocionais, uma recomendação é certa: cuide de sua estabilidade emocional, pois, ao fazer isso, estará assegurando um dos melhores trabalhos de base e, principalmente, reforçando seu sistema imunológico (ele oscila ao sabor de nosso estresse). Não conseguindo ter o controle das questões externas, podemos, pelo menos, procurar exercer um controle a respeito de nossa estabilidade psicológica.

Conclusão

Nosso cérebro reage muito mal à falta de planejamento e à perda do controle a respeito das incertezas iminentes. Assim sendo, tentar diminuir o estresse e a ansiedade inclui qualquer forma de diminuição da estimulação sensorial, além disso, aumentar o suporte social e desenvolver estratégias adequadas de enfrentamento podem ser ações bastante úteis. Desta maneira, procure dar um tempo junto aos eletrônicos (e às telas digitais), pois elas são fonte intermitente de notícias, o que dispara a ansiedade, funcionam como um tipo de “gatilho” emocional.

Nos momentos que experimentar maior angústia, procure falar de suas preocupações a respeito do covid-19 com pessoas de sua proximidade e confiança, ou seja, evite compartilhar suas inquietudes com qualquer pessoa, pois isso lhe fará ouvir mais opiniões de estranhos, muitas vezes pouco balizadas, o que pode aumentar sua sensação de medo e pânico. Ao buscarmos as pessoas significativas, renovamos as sensações de confiança e cumplicidade, o que está ligado ao aparecimento dos sentimentos de pertencimento e de proteção, resultando em uma maior percepção de amparo social.

E, finalmente, como sugestão de técnica emocional de enfrentamento, caso você esteja vivendo níveis muito altos de alarme emocional, tente fazer exercícios regulares de mindfulness. Eles são, comprovadamente, poderosos aliados na manutenção do equilíbrio emocional e, além de auxiliar na manutenção da calma, também afetam positivamente nosso sistema imunológico.

Resumindo: estabeleça rotinas que envolvam formas de “controle” e de “previsão” de seu cotidiano, pois tais sensações de manejo são fortes o suficiente para acalmar sua mente e seu cérebro mais primitivo.

Evitar deteriorar seu equilíbrio psicológico em tempos de crise, ou seja, cuide de si mesmo, antes de mais nada, e procure assim diminuir os efeitos do COVID-19 em sua saúde mental.

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Você sabe a que riscos se expõe ao compartilhar a vida nas redes? http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/03/voce-sabe-a-que-riscos-se-expoe-ao-compartilhar-a-vida-nas-redes/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/03/03/voce-sabe-a-que-riscos-se-expoe-ao-compartilhar-a-vida-nas-redes/#respond Tue, 03 Mar 2020 07:00:37 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2498

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Como é de conhecimento de todos, as redes sociais (digitais) vieram, muito possivelmente, para ficar entre nós por um período ainda muito longo. Embora a preferência do público se altere com a passagem do tempo, de uma plataforma para outra, de acordo com o momento histórico ou com uma “nova tendência”, uma coisa é certa, a presença e o grau de interação que mantemos com essas comunidades, de fato, é algo extremamente significativo.

Muitos, inclusive, pensam que as redes sociais foram, na verdade, inventadas pelas plataformas digitais. Entretanto, nossa rede de relacionamentos interpessoais sempre existiu fora da web e, mais, sempre irá existir entre nós, pois somos seres gregários desde nossos antepassados distantes, ou seja, não é de hoje que mostramos uma predileção para andarmos junto aos grupos. Historicamente, o bando de humanos sempre demonstrou uma poderosa forma de assegurar nossa sobrevivência. Em comunidade, caçávamos e coletávamos melhor, encontrávamos mais proteção contra os predadores e, finalmente, no grupo tínhamos uma melhor possibilidade de assegurar a continuidade da espécie através do acasalamento.

O que ocorre hoje, todavia, é que essas redes digitais ganharam uma representatividade e penetração maior junto à web, potencializando seus efeitos e sua atratividade social. Por exemplo, em todos os lugares que já frequentamos fisicamente (off-line), sempre mantivemos um tipo de agrupamento social. Foi e é assim junto aos centros acadêmicos nas universidades, onde os alunos podem se encontrar, conviver e se relacionar mais intimamente; nas cafeterias, por exemplo, é o lugar preferido junto às grandes corporações; à beira da piscina nos clubes; no recreio quando somos crianças, ou seja, não faltarão exemplos.

Ocorre que, com a possibilidade de termos essas interações facilitadas por meio das telas digitais, o grau de trocas com os demais aumentou de maneira tão expressiva, que se tornou praticamente uma atividade contínua. São várias as publicações que se debruçam sobre as estatísticas de interação descontrolada como, por exemplo, em uma publicação americana recente que deu conta que 50% das crianças, com idade de até 8 anos, acordam no meio da noite apenas para checar suas mídias sociais. E os relatos não param por aí, ou seja, os números se repetem em todas as faixas etárias e dentro dos mais variados estratos socioculturais (leia-se: todos usam muito essas plataformas).

O que pouca gente se deu conta é que, por trás de todo esse encantamento digital, há riscos importantes que são, para grande parte dos usuários, ainda desconhecidos.

Eu explico.

Em primeiro lugar, o uso sistemático, segundo já atestado por várias publicações científicas, faz com que nossa energia e a intensidade de nossa concentração diminuam bastante, pois, a cada sinal sonoro proveniente de alguma curtida, comentário ou aviso, interrompemos nossas atividades cerebrais em curso. Isso exige uma mudança significativa de operação mental, gerando um tipo de estresse cognitivo e, pior, provocando a descontinuação sistemática de todo um processo mental envolvido nas regiões dedicadas ao raciocínio profundo e mais criativo do que quando trabalhamos ou estudamos. Ou seja, quanto mais alta for a taxa da quebra de atenção gerada pelas telas digitais, mais “superficiais”, mentalmente falando, vamos nos tornando com a passagem do tempo (aqui também existem pesquisas atestando o que estou dizendo).

Para se ter uma noção do tamanho do desconforto, em uma investigação conduzida no Reino Unido, apenas junto aos adolescentes, revelou-se que quase 50% afirmaram que “estariam mais felizes” se as redes sociais nunca tivessem sido inventadas.

E enquanto ingenuamente pensamos que no fundo a culpa desse acesso descontrolado e excessivo é totalmente nossa, pois estamos meio que “fora de controle” e sem muito critério, desconhece-se o fato de que esse tipo de vício ou de “compulsão” tem uma razão muito simples e que pode ser explicada pelas empresas de tecnologia. Caso você não saiba, essas plataformas usam (e abusam) de uma série de truques de manipulação para atrair nossa atenção, visando única e exclusivamente prolongar ao máximo o tempo de engajamento e de interação digital. Portanto, o resultado final não é tão bom, pois nós, na verdade, acabamos nos tornando os verdadeiros commodities (ou, se você preferir, os ratos de laboratório) das grandes companhias do Vale do Silício. Em troca de uma conta de e-mail gratuita e da exibição de alguns vídeos engraçados de gatinhos, damos acesso pleno a toda a nossa movimentação digital cotidiana, nos tornando altamente vinculados emocionalmente.

Além do mais, como a sensação de conexão social ativa regiões significativas de nosso cérebro, assegurar (e manter) o “destaque” pessoal através das curtidas recebidas acarreta igualmente um tipo de receio ou de desconforto -ou de “medo”, se você preferir -, de sermos ignorados e poder viver um tipo de ostracismo virtual na falta de boas avaliações sociais de terceiros. Portanto, além de estarmos sendo quase que compulsoriamente induzidos a ficarmos conectados o tempo todo, ainda temos que administrar o medo de não conseguir manter a nossa popularidade, o que, no final das contas, nos gera uma dosagem cavalar de ansiedade. Bom, não acha?

Resumo breve: a forma com a qual estamos interagindo com a web é uma receita certa para que possamos entrar em um quadro de burnout ou de colapso psicológico. Simples assim, é apenas uma questão de tempo.

Claro, e como se não bastassem nossas inquietudes digitais, não apenas postando e compartilhando (demais, muitas vezes) a respeito de onde estamos e o que estamos fazendo, igualmente, inundamos a web com fotos que, muitas vezes, tiradas orgulhosamente dos filhos, podem semear outros tipos de problemas a médio e longo prazo. Uma pesquisa revelou que parte expressiva das fotos infantis que os cuidadores sobem nas redes sociais – como o clássico “banho na banheirinha” ou algumas fotos mais íntimas de convívio familiar podem se revelar potencialmente constrangedoras quando compartilhadas a estranhos no futuro e que podem terminar servindo, muitas vezes, de munição para possível bullying  que nossos filhos sofrerão na adolescência ou, ainda pior, para problemas junto aos colegas de trabalho – nem sempre muito amigos – que encontraremos na vida corporativa (aqui, novamente, há outras investigações comprovando isso).

Portanto, a web é, de fato, um terreno bastante pantanoso e que necessita de uma grande cautela. Isso quer dizer que mesmo as informações que postamos em momentos de alegria e de espontaneidade podem, vistas sob outro ângulo menos afável, se tornar potencialmente negativas com a passagem do tempo. Além disso, de olho em obter um raio-fidedigno de quem somos, de verdade, já se pode contar com empresas internacionais que fornecem aos empregadores aquilo que se denomina de “biografia digital”, ou seja, nada menos do que uma vasta coletânea de retratos e de informações disponibilizadas conscientemente por nós ao longo da vida na rede e que podem, muitas vezes, ser usadas contra os próprios usuários.

E, finalmente, o navegador de alguns celulares pode, periodicamente, sem nossa percepção, abrir os microfones para registrar as conversas do meio ambiente e guardá-las nas nuvens, sem que tenhamos qualquer noção a respeito dessa prática corporativa tão comum. Desta forma, consciente ou inconscientemente, estamos nos expondo de maneira excessiva e o preço pode ser alto.

Para concluir, importante dizer que nossas opiniões se alteram com a passagem do tempo, isto é, aquilo que hoje acreditamos ser salutar e benéfico, amanhã pode assumir outro ponto de vista e essas comunidades que tanto gostamos de participar, não são muito afáveis às mudanças de opinião e, quando contrariadas, podem auxiliar enormemente para a manifestação pública de ódio e de segregação.

A conclusão?

Creio estar mais do que na hora de desenvolvermos uma atitude mais responsável em relação ao nosso comportamento digital e ao de nossos filhos e, mais do que isso, entendermos de forma madura e sensata de que toda ação gera uma consequência e, enquanto muitos destas práticas e comportamentos na web não forem claramente compreendidos, quanto às suas reais consequências a médio e longo-prazo, podermos pagar um preço altíssimo em um futuro não tão distante.

Portanto, vai minha dica: pense bem antes de postar, não publique compulsivamente e, finalmente, tenha muita cautela com o que você pode estar fazendo, sem perceber, com a sua reputação digital.

Para saber mais

https://www.grupoa.com.br/dependencia-de-internet-em-criancas-e-adolescentes9788582715314-p1004101

https://www.grupoa.com.br/vivendo-esse-mundo-digital-p989873

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As telas têm atrapalhado o sono dos seus filhos? Entenda os riscos http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/02/11/as-telas-tem-atrapalhado-o-sono-dos-seus-filhos-entenda-os-riscos/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/02/11/as-telas-tem-atrapalhado-o-sono-dos-seus-filhos-entenda-os-riscos/#respond Tue, 11 Feb 2020 07:00:15 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2491

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É bom ficar atento! Caso você ainda não saiba, os estados do sono são processos ativos que participam da reorganização dos circuitos cerebrais, o que torna o momento do repouso noturno especialmente importante para as crianças, pois seus cérebros estão em pleno desenvolvimento e reorganização.

Já é de amplo conhecimento que baixa duração do sono (em adultos, especificamente) está correlacionada com o aparecimento de problemas de saúde mental e cognitivos. E uma análise publicada na Molecular Psychiatry resolveu investigar como isso afeta as crianças. A presente investigação contou com uma amostra importante, composta por 11.067 crianças, com idade variando entre 9 a 11 anos e onde se correlacionou a duração do sono noturno com medidas de desenvolvimento cognitivo. (1)

O resultado?

Dormir pouco, de fato, criou problemas importantes de saúde mental, isto é, pouco sono noturno levou ao aparecimento de depressão, ansiedade, comportamento impulsivo e, finalmente, baixo desempenho cognitivo (leia-se: menor capacidade mental para resolver problemas acadêmicos).

Sabe-se que a quantidade recomendada de sono para crianças com idade entre 6 e 12 anos é de 9 a 12 horas por dia, entretanto, os transtornos do sono têm se tornado comuns entre crianças e adolescentes, devido a vários fatores como, por exemplo, crescente demanda do tempo gasto na escola, prática de esportes, atividades sociais e, finalmente agora, um pouco pior, em função do aumento expressivo do tempo gasto em frente às telas, principalmente, no período noturno.

Estudos anteriores já revelavam, por exemplo, que apenas nos EUA, cerca de 60% dos adolescentes já desfrutavam de menos de oito horas de sono por noite.

E as coisas não param por aí:

Somente considerando, em crianças, a “presença das telas”, também já foi demonstrado que elas produzem menores níveis de performance acadêmica, uma vez que as habilidades analíticas ficam seriamente prejudicadas, em decorrência da intensa estimulação digital. E tem mais, o uso sistemático dos eletrônicos também foi associado a baixos níveis de regulação emocional. (2)

Embora nós, profissionais, estejamos repetindo a recomendação de não usar os eletrônicos antes de dormir, tanto os jovens (quanto seus pais!) resistem em seguir as orientações. Outra importante investigação mostrou que 7 em cada 10 crianças dão uma “olhadinha” nos celulares antes de se deitarem. Segundo o levantamento, 62% dos pais e 39% das crianças disseram que mantêm o celular ao lado da cama durante a noite toda. As meninas, por sua vez, mostram esse hábito em maior intensidade —33% relataram a proximidade com o eletrônico durante o sono, em comparação com 26% dos meninos. (3)

Muitas famílias também relatam ter seu sono interrompido em função das notificações contínuas que chegam no aparelho. Outra pesquisa revela que 1 em cada 3 jovens acorda no meio da noite apenas para verificar o celular —o que, cá entre nós, é uma prática bastante prejudicial, pois interfere na consolidação da memória daquilo que foi aprendido em sala de aula no dia anterior. (3)

A questão é tão séria que ganhou uma investigação junto ao Swiss Tropical and Public Health Institute, onde se analisou a relação entre a exposição à radiação dos celulares e a performance da memória de um grupo de 700 adolescentes, com idade variando entre 12 e 17 anos, ao longo do período de um ano. (4)

Sabe o resultado? O efeito acumulativo dessa radiação do celular criou um resultado negativo no desenvolvimento e no desempenho da memória “figurativa” desses adolescentes, ou seja, após 12 meses, notou-se um efeito nocivo junto àquele tipo de arquivo mental que retém a “representação” das experiências de vida (composta pelos sons, cores, odores e suas associações).

Segundo ainda a investigação, uma vez que, quando fazemos uma chamada, usamos o telefone muito mais no ouvido direito de nossa cabeça local onde ocorrem igualmente os registros desse tipo de memória no cérebro , a radiação recebida poderia, portanto, criar um tipo de prejuízo progressivo dessas funções cognitivas.

Para se pensar

Voltando à pesquisa dos 11.067 adolescentes, o resultado mostrou que para as crianças com menos de 7 horas de sono, de fato, após um ano de avaliação, os problemas começaram a surgir, principalmente com a presença de sintomas depressivos.

Isso nos leva, portanto, a destacar a importância de assegurarmos um tempo de sono suficiente aos filhos para preservar as funções mentais como a cognição e, mais do que isso, assegurar o equilíbrio da saúde mental nas crianças.

Celular e quarto não combinam. Procure manter o hábito de deixar os eletrônicos fora do ambiente de descanso e, caso você diga que usa o celular “apenas para o despertar”, compre logo um relógio tradicional e o coloque ao lado da cama. Ou você é daqueles que ainda acreditam que os filhos não vão olhar o celular no meio da noite?…

Pense nisso.

 

Referências

  1. https://www.nature.com/articles/s41380-020-0663-2
  2. https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2019/08/13/uso-da-internet-e-ligado-ao-decrescimo-da-inteligencia-verbal-em-criancas/
  3. https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2019/06/11/cada-vez-mais-pessoas-se-sentem-dependentes-do-celular-diz-estudo-dos-eua/
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6108834q/
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Celulares em sala de aula: vale restringir ou não? http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/01/28/celulares-em-sala-de-aula-vale-restringir-ou-nao/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2020/01/28/celulares-em-sala-de-aula-vale-restringir-ou-nao/#respond Tue, 28 Jan 2020 07:00:58 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2484

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Aqui está um tema que vem provocando a divisão de opiniões entre pais, alunos e familiares, ou seja, até que ponto a presença de um telefone em sala de aula pode ser positiva? Há menos de uma década, esse assunto sequer passava do lado de fora dos estabelecimentos de ensino, entretanto, à medida que o avanço da tecnologia veio ocorrendo, de maneira exponencial, seguramente, essa é apenas a ponta do iceberg de um assunto que ainda vai trazer muita discussão.

Mas uma coisa é certa: a presença das telas veio para ficar, e saber utilizá-las tornou-se uma questão vital, não apenas quando falamos das novas modalidades de ensino, mas, igualmente, quando o assunto também diz respeito à nossa saúde mental.

Por um lado, o acesso às plataformas digitais nos permitiu a conexão aos sites de busca que nos ajuda a obter qualquer informação, em questão de segundos, além de algumas dezenas de outras possibilidades sobejamente conhecidas, por exemplo, o acesso aos aplicativos de músicas, comida, mobilidade urbana e, é claro, as redes sociais.

Assim sendo, temos na palma das mãos mais informações do que qualquer pessoa no planeta tinha há menos de duas décadas. E isso, claramente, é tentador, pois a cada desbloqueio de tela, uma porta infinita de conexões se abre, sem custo, 24 horas por dia e podendo ser acessada de qualquer lugar.

E a pergunta central, que eu proponho aqui, seria essa: estariam os alunos preparados para lidar com esse imenso afluxo de informações dentro da sala de aula? Por mais que nos esforcemos, é fato, uma resposta simples ainda não existe.

Antes de falar da tecnologia em si, vale lembrar que o cérebro das crianças e dos jovens vai passando por um processo de maturação, que será finalizado apenas por volta dos 25 anos de idade, ou seja, até que esse momento tenha chegado, o córtex pré-frontal local onde se dá o controle dos impulsos ainda funcionará de maneira parcial e limitada.

Vale dizer que essa função de “freio comportamental” nos faz ter forças para que possamos conter atitudes que não nos seriam positivas ou benéficas, ou seja, dito em outras palavras, até que possamos atingir a maturidade, mesmo que saibamos que alguma coisa não nos será muito adequada, não conseguimos exercer o controle de um determinado comportamento –o que nos deixa, obviamente, mais vulneráveis.

Assim, mesmo que possamos orientar nossas crianças e nossos jovens a desenvolver uma atitude saudável e construtiva em relação às telas digitais, dificilmente eles estarão preparados, em função da limitação biológica do cérebro (ainda em desenvolvimento).

A coisa é tão séria que o Parlamento francês aprovou, em 2018, a proibição de telefones celulares em escolas públicas. A lei foi uma promessa de campanha de Emmanuel Macron e chegou a ser chamada pelo governo de “medida de desintoxicação” contra a distração nas salas de aula. A medida proíbe o uso de qualquer objeto conectado, como celulares, tablets e relógios, nas escolas, junto às crianças com idade variando de 6 a 15 anos. (1)

Desde a promulgação de uma lei, em 2010, o Código de Educação Francês já vetava os celulares durante toda atividade pedagógica e nos locais definidos pelas escolas.

Exagero francês?

Nos Estados Unidos, no Vale do Silício, as escolas mais concorridas, onde estudam os filhos dos CEOs das grandes empresas de tecnologia como eBay, Google, Apple, Yahoo, Hewlett-Packard etc, são aquelas chamadas de tech-less schools (escolas sem tecnologia). Segundo esses estabelecimentos, as principais ferramentas de ensino são tudo, menos a tecnologia de ponta, ou seja, os materiais que mais se encontram são as canetas, papel, agulhas de tricô e, ocasionalmente, barro. Nesses locais, jamais encontraremos sequer um computador e, não para por aí: não apenas em sala de aula eles foram banidos, mas a escola, inclusive, desaprova seu uso em casa.

Essa proibição se baseia na visão de especialistas em educação, onde o argumento de que o esforço para equipar as salas de aula com computadores seria injustificado, uma vez que os estudos ainda não mostraram claramente se isso, efetivamente, leva a melhores pontuações nos testes ou outros ganhos mensuráveis. (2)

Algumas outras propostas, por exemplo, defendem exatamente o contrário, ou seja, de que o uso da tecnologia deveria, sim, ocorrer nas escolas por ser ele vital no desenvolvimento do processo educacional. Atualmente, são contabilizados mais de 500 mil apps de educação e o contato com esse material, afirmam, seria imprescindível para tornar os alunos mais qualificados para o futuro que os aguarda. Além do mais, por serem gratuitos, ajudariam a aumentar a motivação e o engajamento com o conteúdo pedagógico, e desta forma, muitos professores e especialistas defendem sua utilidade durante a aula. Além do mais, há outro importante argumento, o de que os professores poderiam aprender também com os especialistas, o que tornaria o processo de educação mais consolidado. (3-4)

Vamos pensar?

A situação atual é, portanto, bem simples: algumas escolas permitem a inclusão tecnológica, por não saber de uma maneira muito clara como ainda se posicionar. Outras incluem o manejo digital, por entender que seja benéfico e, em muitos casos, chegam a informatizar totalmente o processo educacional. E, finalmente, há aquelas que baniram sumariamente as telas, por entender que é muito prejudicial esse convívio, não apenas pelo fato de que a simples presença das telas digitais levaria a um processo constante de distração, mas também em função de se observar um efeito colateral.

Eu explico.

A mesma porta que se abre para entrada dos conteúdos educativos, também permite o acesso ao cyberbullying –muitas vezes, podendo afetar a reputação de um jovem por toda uma vida , ao sexting, que é troca de material fotográfico íntimo e erótico entre parceiros afetivos (já atendi uma adolescente que tentou suicídio pelo fato de ter tido uma foto íntima “vazada” para as redes sociais); a disseminação de fake news (crime, sujeito à pena de reclusão de dois a oito anos); a prática do grooming (aliciamento digital de adolescentes, feito por adultos que se passam por colegas), dentre alguns outros comportamentos frequentes, com os quais os nossos jovens não estão nem um pouco preparados para lidar.

Sem qualquer constrangimento, eu afirmo que de nada adianta tornar um aluno mais capacitado, tecnicamente falando, se emocionalmente ele se torna mais vulnerável, exposto e desprotegido aos perigos da internet. Infelizmente, a preocupação com a saúde mental ou com a segurança dos alunos ainda é coisa rara, principalmente, quando as telas digitais estão presentes.

Eu ainda acho que a tecnologia em sala de aula poderia esperar um pouco mais.

Para saber mais

Referências bibliográficas
(1)https://www.dw.com/en/france-bans-smartphones-in-schools/a-44890246
(2)https://www.nytimes.com/2011/10/23/technology/at-waldorf-school-in-silicon-valley-technology-can-wait.html?_r=5&adxnnl=1&pagewanted=all&adxnnlx=1366983938-HdWeAy6eH4vcK5Y6hBQR2Q&
(3)https://educacao.uol.com.br/noticias/2015/02/24/sete-motivos-para-ligar-o-celular-na-sala-de-aula.htm
(4)https://www.statista.com/statistics/276623/number-of-apps-available-in-leading-app-stores/
(5) https://www.grupoa.com.br/vivendo-esse-mundo-digital-p989873?tsid=34
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Redes sociais: quanto mais tempo você gasta, pior você fica? http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/redes-sociais-quando-mais-elas-nos-desgastam-mais-continuamos-usando/ http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/redes-sociais-quando-mais-elas-nos-desgastam-mais-continuamos-usando/#respond Tue, 03 Dec 2019 07:00:04 +0000 http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/?p=2466

Crédito: iStock

Os usuários de redes sociais correm o risco de se tornarem cada vez mais viciados em plataformas de mídia social, apontou uma nova pesquisa. (1)

Já não é de hoje que eu venho comentando aqui em meu blog sobre várias pesquisas mostrando que algumas redes sociais realmente causam um tipo de “desgaste emocional” em seus usuários em função da angústia gerada pela necessidade contínua de postagens e de aceitação, busca obsessiva por curtidas, sem falar nos aspectos ligados aos circuitos de dependência tecnológica que são acionados pelo prazer provocado pela liberação de dopamina no cérebro (exatamente igual ao que acontece no jogo patológico ou no uso de certas substâncias).

O que não se sabia, porém, é que essas pessoas, quando confrontadas com esse mal-estar tecnológico, em vez de saírem das redes sociais como uma maneira de se recuperarem, saltam para outra atividade dentro da mesma rede social. Assim mostrou uma pesquisa publicada recentemente sobre estresse tecnológico (1). Em vez de saírem da rede social e fazer uma “desintoxicação digital”, os usuários se mantinham no mesmo ambiente na esperança de diminuir a angústia.

Vamos a uma comparação para nossa conversa ficar mais clara: digamos que estamos sofrendo por não conseguir regular nossa alimentação. Como forma de aliviar esse sofrimento, buscamos “alternativas” como, por exemplo, fazer um regime e/ou iniciar alguma atividade física. Assim , saímos do circuito daquilo que está nos deixando para baixo, certo?

No caso das mídias sociais, a pesquisa mostrou que quando se sentiam desconfortáveis, os usuários simplesmente não conseguiam deixar o meio em que o estresse se originava. Assim sendo, seria o mesmo que, para tentar diminuir a ingestão excessiva de chocolate, começássemos a tomar mais sorvete. Ficou mais claro agora?

A pesquisa avaliou o hábito de 444 usuários de uma rede social e apontou que, sempre que algo não ia bem,  eles apenas alternavam as atividades “dentro da mesma plataforma”, ou seja, se estavam se sentindo mal com o baixo retorno nas postagens, mudavam então o comportamento de conversar com amigos, escrever no feed ou postar novas atualizações. Desta forma, a angústia digital apenas servia de gatilho para essas pessoas ficarem mais tempo engajadas nas telas, em vez de simplesmente saírem.

O final da história, nem preciso comentar: a permanência contínua, apesar do desgaste, cria uma maior probabilidade de desenvolver dependência de tecnologia, pois esses indivíduos acabam expostos a vários outros estímulos (e, pior, por um período de tempo maior), em vez de simplesmente fazer algo alternativo.

Para se pensar

Se o uso das redes sociais, acima de tudo, não visarem qualidade, bem-estar e uso consciente, a chance de as pessoas se perderem dentro dessas plataformas digitais será imensa, pois um efeito looping viciante poderá ocorrer rapidamente.

Uma pesquisa conduzida no Reino Unido com 5 mil estudantes revelou que (2):

  • 2/3 estariam mais felizes se as redes sociais nunca tivessem sido inventadas;
  • 57% recebeu comentários abusivos online;
  • 56% se sentia prestes a se tornar dependentes das mídias sociais e, finalmente;
  • 52% sentia que as mídias sociais faziam com que se sentissem menos confiantes a respeito de como são vistos e de quem são realmente.

Lembremos que é fácil observar os tipos de estresse ligados às redes sociais: (a) quando as mídias invadem nossa vida pessoal, ou seja, nossa intimidade sendo demasiadamente exposta, (b) quando somos “forçados” a nos adaptar (“corresponder”) às demandas dos amigos virtuais, isto é, responder as perguntas, devolver as curtidas etc., (c) “necessidade” de fazer postagens excessivas –nem vou comentar – e, finalmente, (d) ter de ficar continuamente atualizando nossos perfis com novas informações.

Conclusão

Assim sendo, para concluir nossa conversa, vai aqui minha dica: tente REGULAR o uso dessas plataformas (lembre-se: o problema é o nosso descontrole). E, caso não esteja experimentando boas sensações ao navegar e interagir com os amigos virtuais, DESCONECTE-SE, e converse com colegas ou familiares a respeito dos problemas que esteja enfrentando.

Cuidado para sua diversão não virar um enorme problema a ser resolvido depois.

Referência bibliográfica 

  1. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/isj.12253
  2. https://www.telegraph.co.uk/news/2017/10/05/backlash-against-social-media-children-would-happy-did-not-exist/
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