Luz fraca a noite pode aumentar risco de metástase do câncer de mama
Como psicólogo e pesquisador dos efeitos da tecnologia sobre a saúde mental, tenho falado repetidamente a respeito dos efeitos que a exposição noturna às telas (como os videogames, tablets e celulares) pode criar no cérebro humano, uma vez que alteram de maneira significativa nosso relógio biológico. (1)
A luminosidade emitida por esses eletrônicos, ao atingir as células fotossensíveis existentes em nossa retina, "confunde" nossa biologia, informando-nos que ainda é momento para "acelerar", em vez de reduzir nosso ritmo circadiano para a chegada do sono.
Caso você ainda não saiba, a luz é o principal ativador de nosso organismo. Neste sentido, já se sabe que ficar exposto à luz durante a noite pode alterar de maneira significativa nossas funções mais básicas, levando-nos ao desenvolvimento da depressão e outros efeitos bastante deletérios em nosso equilíbrio psicológico. (2)
O que ainda não se sabia é que a exposição à luz fraca durante a noite, que é muito frequente no estilo de vida de hoje, pode contribuir para a propagação do câncer de mama para outras regiões.
Peço licença aos colegas médicos para comentar algo fora de meu campo de atuação, mas achei a pesquisa muito significativa e, assim, vou apresentá-la.
Luz noturna e a propagação de câncer
Até o momento, sabia-se que a exposição à luz fraca durante a noite poderia interferir, de maneira significativa, no nosso ritmo circadiano, entretanto, o que se desconhecia é que, ao se afetar o relógio biológico, estaríamos colaborando com a formação de câncer de mama metastático ósseo, assim concluíram as investigações. (3)
Vamos novamente.
Vamos lembrar que muitas pacientes com câncer de mama provavelmente são expostas à luz durante a noite, devido à falta de sono e o estresse pelo momento que estão passando, o que aumentaria, portanto, a presença de dispositivos móveis (leia: eletrônicos) nos ambientes de casa.
Segundo ainda a investigação, dados apontam que mais de 150.000 mulheres, apenas nos EUA, em 2017, tiveram câncer de mama que se espalhou para outras regiões, de acordo com uma estimativa do Instituto Nacional do Câncer. E o que se sabe é que, quando o câncer de mama se propaga, muitas vezes vai para os ossos, o que pode causar dor severa e colaborar com uma expressiva fragilidade óssea.
Utilizando modelo animal (ratos), um grupo foi exposto à luz durante o dia e, à noite, mantido no escuro – a exemplo da rotina esperada -, enquanto um segundo grupo de camundongos foi exposto à luz diurna regular, mas durante a noite se fez a exposição de uma luz fraca no ambiente em que estavam. A intensidade da luz era de 0,2 lux, ou seja, uma emissão equivalente àquela luminosidade encontrada em um telefone celular. Para avaliar os efeitos cancerígenos, foram injetadas células de câncer de mama humana nos ossos da tíbia de camundongos fêmeas. (3)
O resultado?
Imagens de raios-X mostraram que camundongos que foram expostos a ciclo anormal de luz, ou seja, luz durante o dia/luz fraca durante a noite, apresentaram tumores muito maiores e com maior dano ósseo, em comparação com os ratos mantidos em um ciclo padrão de luminosidade clara/escura, reproduzindo o padrão de vigília e de sono.
Conclusão
Vou ser repetitivo, mas insisto para que possamos tentar manter um equilíbrio no uso dos eletrônicos, principalmente no caso das crianças e adolescentes. Telefones e tablets devem ficar fora do quarto durante a noite – inclusive, a dica serve para os adultos, a exemplo do que acabamos de ver na pesquisa acima. A ciência ainda não teve tempo hábil para entender de maneira mais ampla os efeitos que esses equipamentos podem nos oferecer a médio e longo prazo. E não seguir essas regrinhas básicas pode nos fazer pagar um expressivo pedágio no futuro.
Referências
- https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2013/10/02/padrao-de-sono-e-afetado-por-aparelhos-eletronicos-no-quarto/
- https://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2013/08/30/qual-e-a-cor-de-sua-luz-noturna-saiba-que-ela-pode-afetar-sua-saude/
- https://www.sciencedaily.com/releases/2019/03/190323145223.htm
Agradecimentos à Dra. Evelyn Eisenstein.
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