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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Por que temos pesadelos? Sonhos ruins têm função importante para o cérebro

Dr. Cristiano Nabuco

30/10/2018 04h00

Crédito: iStock

O que são pesadelos? São experiências mentais vividas de maneira realista e experimentadas durante o sono profundo. Muitas vezes, eles nos fazem acordar com o coração batendo mais rápido, com a respiração alterada e, às vezes, nos fazendo transpirar.

Pesadelos tendem a ocorrer predominantemente durante a fase REM (do inglês "rapid eye movement", ou seja, quando estão presentes os movimentos oculares rápidos) e quando se atinge um relaxamento muscular absoluto.

Como os períodos de sono REM se tornam mais frequentes à medida que a noite avança, temos a impressão de que os pesadelos ocorrem mais usualmente nas primeiras horas da manhã.

Algumas das funções atribuídas ao sono REM incluem a manutenção do equilíbrio geral do organismo, a liberação de substâncias que regulam o ciclo vigília-sono, temperatura corporal e, finalmente, consolidação da memória, dentre outras.

Embora seja verdade que pesadelos são mais comuns entre as crianças, sabe-se que um em cada dois adultos tem pesadelos de vez em quando (enquanto que entre 2% e 8% da população adulta é atormentada por pesadelos mais frequentes).

É claro que ninguém gosta de ter sonhos violentos ou assustadores, entretanto, tais acontecimentos podem ter um propósito importante para a sua saúde mental.

Qual a função dos pesadelos?

Embora sua função ainda não seja totalmente compreendida, existe uma teoria que procura desmistificar esses acontecimentos.

Veja só que interessante: como somos visitados por uma quantidade imensa de emoções ao longo de nosso cotidiano, muitas vezes ficamos confusos e não sabemos lidar com os vários aspectos de uma determinada situação.

Em função de vivermos muitas dessas aflições enquanto estamos acordados, tais preocupações são, naturalmente, levadas para nossa cama na hora de dormir. Assim, segundo pesquisadores, os sonhos ruins entrariam exatamente nesse momento, ou seja, funcionando como um tipo de processador emocional. Eu explico.

Como nosso cérebro tem que manejar medos vagos e imprecisos que sentimos no dia-a-dia, ao serem montados em forma de histórias fantasiosas um pouco mais elaboradas, nossa mente consegue criar um melhor contorno de interpretação.

Assim, as inquietudes incompreensíveis, ao se tornarem componentes de uma experiência sonhada, ainda que fictícia, se tornam mais facilmente superáveis por nossa mente consciente.

É dessa forma então que as emoções difusas se tornam mais inteligíveis, ou seja, nossos pesadelos podem ser compreendidos como "laboratórios ou fábricas de sentidos" ao ajudar nossa mente a criar uma ideia mais clara a respeito daquilo que nos aflige (por isso que são, muitas vezes, bizarros ou inimagináveis, pois aparentemente unem coisas que não podem "logicamente" serem unidas).

Portanto, ao que tudo indica, uma das funções do sonho atribulado seria a de transformar nossos temores mais vagos em memórias.

Além disso, como o pesadelo é vivido como um fato que já aconteceu (ou seja, ficou no passado), nossas aflições são naturalmente trasladadas para a memória, removendo então os medos de nossos horizontes presente e futuro. Pesadelos nos ajudam, dessa maneira, a nos distanciar de nossos temores.

Portanto, se você é uma das pessoas que, às vezes, são importunadas por essas vivências, não se aborreça tanto.

Conclusão

Na verdade, ao sonhar coisas ruins você está apenas tomando consciência do mecanismo emocional que não seria facilmente executável enquanto se está acordado. Assim, precisamos dos sonhos ruins para processar as coisas negativas que ocorrem conosco,  tornando-nos, portanto, mais fortes.

É nosso cérebro, mais uma vez, nos dando mais uma "mãozinha" ao criar um lado positivo das coisas.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!