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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

As redes sociais afetam mais o seu relacionamento do que você imagina

Dr. Cristiano Nabuco

03/07/2018 04h00

Photo by rawpixel on Unsplash

A maneira como nos relacionamos sofreu modificações importantes ao longo dos últimos anos. Se, até algumas décadas atrás, as pessoas precisavam, necessariamente, participar de festas, encontros ou eventos para tentar encontrar novos parceiros(as) amorosos nas interações cara a cara, hoje em dia basta entrar em algum site de relacionamento para que se tenha, à disposição, algumas dezenas ou centenas de possibilidades. Isso tudo sem sair de casa e sem que tenhamos, efetivamente, de estar presentes. De maneira semelhante como escolhemos um produto em um site de compras, grande parte dos relacionamentos interpessoais tem seu início tão logo a outra pessoa seja informada e, claro, corresponda.

Encontrar novos relacionamentos se tornou algo rápido, simples e sem maiores complicações.

Tão fácil que permite aos parceiros insatisfeitos com suas relações mais duradouras a possibilidade de também dar uma rápida olhada, sem maiores complicações. Afinal, ninguém é de ferro, certo?

Errado!

Caso você não saiba, existem algumas estatísticas bastante estarrecedoras sobre o assunto. De acordo com uma pesquisa conduzida por um grande escritório de direito de família dos Estados Unidos, um em cada três divórcios ocorre por conta das redes sociais. Já um outro relatório, publicado pelo Google, aponta que um em cada cinco divórcios no mundo, atualmente, tem uma correlação direta com os relacionamentos do Facebook. (1-2)

Como a coisa é séria, o mesmo levantamento apontou que uma a cada três pessoas mantém suas senhas dos perfis sociais escondidas do parceiro. Assim, ao que tudo indica, as novas plataformas são um solo fértil para os relacionamentos extraconjugais. Tanto é verdade que 14% dos usuários buscam pistas de infidelidade nas contas dos cônjuges e 30% destas pessoas, embora formalmente casadas, não se comportam como tal. (1)

Assim, dois em cada dez internautas entrevistados afirmam que as redes sociais são perigosas para a saúde de seus relacionamentos. Além disso, um em cada cinco entrevistados, em algum momento, chegou a duvidar de seus parceiros em função das coisas que encontram nas redes sociais dos cônjuges. (3)

No que diz respeito aos advogados, a Academia Americana de Advogados de Família cita que 81% usam informações contidas nos perfis do Facebook como evidências legais primárias nos processos de separação de seus clientes, ou seja, aquilo que você posta nas redes sociais, muito provavelmente poderá ser usado contra você mesmo em um eventual processo de dissolução matrimonial, caso seja necessário. (4)

No Reino Unido, as estatísticas não são muito diferentes. Outra fonte aponta que 20% das "petições de comportamento" (que é o jargão britânico por "motivos para pedir o divórcio") continham a palavra "Facebook". Isso significa que o site era, de alguma forma, culpabilizado pela dissolução das uniões. Apenas alguns anos depois, essa porcentagem saltou para 33%. (5)

Assim sendo, ao que tudo indica, certos "amigos do Face" não são, muito possivelmente, "apenas" amigos e isso, muitas vezes, torna-se rapidamente evidente aos demais. Além disso, um em cada 20 casais relata "ficar chateado" porque o parceiro não publicou nenhuma foto dos dois juntos. Mas, para concluir, não é apenas o que os parceiros estão fazendo nas mídias sociais que causam problemas, os casais discutem sobre o quanto usam os sites também. (6)

GATILHO

As mídias sociais fornecem um caminho poderoso para a adoção de comportamentos que podem ser potencialmente prejudiciais aos relacionamentos afetivos, como a comunicação com "amigos" alternativos que, às vezes, podem criar conflitos de relacionamento, separações ou mesmo, levar ao divórcio. Entretanto, as evidências empíricas disso ainda são bastante limitadas. (7)

Do ponto de vista do comportamento, eu creio que nada nem ninguém tem, de fato, o poder de afetar quem quer que seja, "a não ser que" o internauta já carregue essa predisposição ou insatisfação latente, fazendo das plataformas digitais os novos vilões dos relacionamentos do século 21. Assim sendo, é possível que a suposta "facilidade" de contato sirva, apenas e tão somente, de gatilho para que o descontentamento dos casais se manifeste mais rapidamente.

Para se pensar, não acha?…

De qualquer forma, caso não seja sua intenção real a de buscar novas oportunidades românticas online, seria interessante ter cuidado onde navega e com quem fala, pois tudo que se faz na rede mundial sempre deixará rastros. Isso é fato! (8)

Assim, evite que as redes sociais possam, efetivamente, colocar em risco seu relacionamento.

Referências

  1. https://www.mckinleyirvin.com/Family-Law-Blog/2015/August/Surprising-Stats-on-Social-Media-Divorce-Infogra.aspx
  2. https://pairedlife.com/breakups/Facebook-Flirts-with-Facts-Abut-Divorce-Statistics
  3. https://www.bustle.com/articles/100673-why-social-media-causes-divorces-and-7-ways-its-ruining-your-relationship
  4. http://aaml.org/about-the-academy/press/press-releases/e-discovery/big-surge-social-networking-evidence-says-survey-
  5. https://www.divorce-online.co.uk/
  6. https://www.itproportal.com/2015/04/30/social-media-destroying-marriages-since-2015/
  7. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5400109/
  8. http://punchng.com/protecting-your-marriage-from-social-media/

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!