Topo

Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Realidade virtual e a luta contra o Alzheimer

Dr. Cristiano Nabuco

24/05/2016 07h00

Fotolia - Kaspars Grinvalds

A maneira como uma pessoa se desloca dentro de um labirinto virtual pode dar importantes pistas e, inclusive, prever as chances de uma pessoa vir a desenvolver a doença de Alzheimer em futuro próximo.

Essa foi a conclusão de um estudo publicado na Revista Science. (1)

Nele se descobriu que as pessoas em situação de risco para o aparecimento da doença apresentam uma menor atividade nas células de navegação do cérebro – também conhecidas como "células de grade" (ou, no inglês, grid cells) – um tipo de bússola biológica.

Cientistas, anteriormente, batizaram de "células de grade", o que fornece a localização geográfica a ratos, morcegos e macacos, mas recentemente também se comprovou sua existência em humanos.

Desta forma, tal sistema é ativado, tomando por base a forma como os indivíduos se movem, informando-os seu posicionamento e localização em um plano imaginário de coordenadas.

Por exemplo, feche os olhos e ande cinco passos para frente e depois vire à direita, dando mais 3 passos – aqui estarão as células de grade entrando em funcionamento e rastreando sua posição.

© gloszilla - Fotolia.com

© gloszilla – Fotolia.com

O experimento com a realidade virtual junto aos participantes envolveu a apresentação de um cenário onde havia um céu azul, algumas montanhas a distância e, finalmente, objetos comuns de nosso cotidiano espalhados pelo chão. Os participantes então foram orientados a coletar os objetos virtuais e, posteriormente, devolvê-los ao mesmo lugar através da utilização de um joystick. A equipe monitorou a atividade cerebral de cada participante através de ressonância magnética funcional.

O monitoramento permitiu que os cientistas observassem as atividades de células de grade em uma região cerebral chamada de córtex entorrinal – uma das primeiras regiões atingidas em pacientes que sofrem do Mal de Alzheimer e, supostamente, razão pela qual esses pacientes estão mais propensos a se perder – ao apresentar comprometimentos na noção de espaço e perda de memória.

Os pacientes com pior performance na tarefa virtual foram aqueles que estão em situação de vulnerabilidade para o desenvolvimento futuro de Alzheimer, segundo entenderam os pesquisadores.

Embora seja pouco provável que apenas "testes de navegação" virtuais sejam utilizados como um diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, a informação contida no experimento pode ser um passo adiante em direção a terapias preventivas.

É a tecnologia colaborando diretamente no cuidado e na prevenção em saúde mental.

 

Referência

(1) http://science.sciencemag.org/content/350/6259/430

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!