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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Quais são suas promessas para 2015?

Dr. Cristiano Nabuco

30/12/2014 13h46

© macbrianmun - fotolia

© macbrianmun – fotolia

É curioso observar o que ocorre com a cabeça das pessoas na virada do ano: pulamos as ondas carregados de desejos, promessas e, principalmente, planos, muitos planos,  para o período que se inicia.

Posso apostar que (re)começar a fazer exercícios concorre no topo da lista com, digamos, voltar a estudar, conseguir um novo emprego ou, possivelmente, achar sua alma gêmea.

É nessa época que nosso imaginário volta a ser intensamente povoado de sonhos não realizados que, por um pequeno intervalo, ganham uma vigorosa força que nos faz acreditar que tudo, desta vez, poderá ser diferente.

O final da história, você e eu conhecemos muito bem: assim que nos apresentamos à realidade, poucos pensamentos sobrevivem ao implacável cotidiano que, aos poucos, tem o poder de diluir o mais íntimo desejo de transformação.

É possível que por trás de todas essas aspirações esteja, na verdade, um genuíno e real anseio por felicidade manifesto na forma de diferentes desejos e vontades.

Tendo isso em mente, fica um pouco mais clara a razão pela qual muitos de nossos projetos simplesmente não desmoronam e não se sustentam.

O plano que deveria ser feito de maneira mais estruturada, na verdade é elaborado de maneira parcial e limitada.

Eu explico.

Se desejamos mesmo ser felizes, até podemos caminhar na direção da perda do peso, tentar ganhar um pouco mais de dinheiro, adquirir o tão sonhado bem, entretanto, o que nos poderia levar, efetivamente, à realização de nossa maior aspiração sequer passa pela cabeça das pessoas.

Na verdade, todos desejam mudar a situação de sua vida, mas dificilmente querem se automodificar.

Ao que tudo indica, muito embora as ciências psicológicas e psiquiátricas tenham evoluído demasiadamente nas últimas décadas ao oferecer ajuda profissional de ponta, a grande maioria das pessoas se porta ainda como se a dimensão emocional de cada um permanecesse restrita, inexorável e, pior, completamente desconhecida.

Enquanto a ciência pode se orgulhar de caminhar a passos largos no mapeamento do cérebro em funcionamento e das expedições interplanetárias, o homem, na dimensão individual, ainda insiste em fechar os olhos para si mesmo.

Assim, se você deseja efetivamente sentir-se melhor e mais realizado, que tal começar o ano pensando não apenas nas mudanças externas, mas, principalmente, colocando em foco suas inquietudes e insatisfações emocionais?

Em função de não estarmos habituados a nos conectar conosco, estamos sempre procurando abrandar nossos sentimentos de desconforto através de ações externas como, por exemplo, comprar quando não nos sentimos bem, comer quando estamos ansiosos, ou seja, agimos de uma maneira que, de fato, desviamos a atenção de nossos sentimentos, tornando-os ainda mais incompreensíveis.

Caso você esteja achando difícil minha proposta, vou lhe ajudar.

Usarei uma antiga crônica de Clarice Lispector que tem o seguinte título: "Se eu fosse eu". Diz ela: "Quando a procura de um papel se torna inútil, pergunto-me: se eu fosse eu, em que lugar eu o guardaria?" E complementa dizendo: "Quando eu acho o objeto perdido, fico tão absorvida com a pergunta 'se eu fosse eu', que eu começo a pensar, diria melhor, sentir". E indaga: "leitor, se você fosse você mesmo, quem você seria e onde estaria?".

Lispector conclui sua crônica dizendo: "É como se a mentira fosse lentamente movida do lugar onde se acomodara e temos então contato com a experiência real da vida".

Assim, se você neste final de ano, durante o pulo das ondas se perguntar, em vez de fazer promessas e mais promessas, tentar ouvir as respostas da pergunta: "se eu fosse eu? Quem eu seria e onde estaria?", tenho certeza de que seu ano novo começará de forma bem diferente.

Ao agir desta maneira, posso lhe assegurar que suas mudanças serão muito mais efetivas e duradouras.

Pense nisso.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!