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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

8 sinais de que a depressão pode estar por perto

Dr. Cristiano Nabuco

10/12/2014 09h00

© Focus Pocus LTD - fotolia

© Focus Pocus LTD – fotolia

Caso você ainda não saiba, a depressão é uma das doenças mais incapacitantes, afetando no mundo cerca de 350 milhões de pessoas, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde.

No Brasil, a prevalência de depressão é de aproximadamente 25% da população (teve, tem ou terá a doença), sendo que 10% delas, atualmente, sofrem com o problema.

Embora esteja mais desmistificada, a depressão ainda não é de fácil detecção por leigos e por muitos profissionais de saúde, perpetuando seus impactos por anos.

Sabe-se, por exemplo, que sentir-se deprimido é algo normal na vida das pessoas – vez ou outra -, mas quando nos sentimos tomados por sentimentos de tristeza, raiva ou ainda sentimentos maiores de desesperança, talvez seja momento de prestarmos mais atenção, pois pode ser indicativo de algo mais complexo.

Além disso, ao nos depararmos com pessoas deprimidas, em muitos casos, nota-se a  perda da capacidade de se avaliar corretamente a necessidade de buscar uma ajuda, agravando, portanto, o problema.

Sabe então por que isso ocorre?…

Eu explico: em primeiro lugar, por total desconhecimento. Em segundo, por vergonha e, finalmente, por acreditarmos que em algum momento "iremos melhorar". Equívocos como esses, na verdade, apenas ajudam a agravar o quadro.

Nesse sentido, listei alguns sinais que podem lhe ajudar a identificar a doença e a eventual necessidade de ajuda.

Vamos lá?…

1)    Você está comendo mais ou menos que o usual

Em função de estarmos absorvidos pelos pensamentos negativos, nosso cérebro fica mais voltado à resolução dos problemas em vez da execução de nossas tarefas diárias, ocasionado uma perda de interesse a respeito de nossa alimentação e de nossa comida. Assim, ao comermos menos e pior, acabamos perdendo peso.

Por outro lado, como a depressão também traz uma série de emoções intensas e desorganizadoras, comer demais pode igualmente ser outra maneira de aplacar a instabilidade emocional. Como resultado, podemos começar a comer demais e, com isso, acabamos ganhando peso.

2)    Dormir pouco ou muito

Quando estamos deprimidos, também nos sentimos mais cansados, sem energia, o que nos faz ter uma necessidade maior de dormir mais (ou tirar muitos cochilos). Além disso, nosso sono pode ficar mais interrompido, pois, ao acordamos no meio da noite, ficamos absorvidos pelas preocupações, piorando a qualidade do descanso e a capacidade de recuperação de nosso corpo (sem falar no despertar precoce, outra condição presente na depressão).

3)    Pequenas coisas nos deixam de mau humor

Aqui está um aspecto que pouca gente conhece: estar deprimido aumenta igualmente nossa irritabilidade – principalmente nos homens -, deixando-nos mais agressivos e impacientes. Assim sendo, depressão também pode nos deixar mais mal humorados e sem paciência em relação às pessoas e situações de nosso entorno.

4)    Não conseguimos nos concentrar

O fato de estarmos preocupados com o futuro e com nossa (in)capacidade de resolver as deficiências, ficamos mais "desfocados" e sem atenção na solução das pendências do cotidiano, trabalho, vida acadêmica etc. Além disso, esquecer-se de compromissos frequentes pode tornar-se uma ocorrência comum.

5)    Não mais desfrutamos das coisas que antes nos faziam felizes

Como estamos dormindo mal, não nos alimentando de maneira correta, irritados ou mal humorados, é possível que a depressão nos deixe ainda mais apáticos a respeito das atividades e dos hobbies que um dia nos deram muita satisfação e alegria.

E como resultado nos tornamos mais isolados. Nesse momento, é criado um círculo vicioso, em que afastar-se do que nos fazia bem, acaba por nos impossibilitar combater os estados de tristeza e, portanto, aumentando nossa condição de desesperança.

Dessa maneira, desenvolvemos o que se chama de "anedonia", que é a incapacidade de sentir qualquer tipo de prazer nas coisas que compõem nossa rotina.

© Eléonore H - fotolia

© Eléonore H – fotolia

6)    Sentimo-nos sem valor pessoal

Seria quase óbvio perceber que essa sequência de eventos negativos descritos  impacta nosso valor pessoal e, dessa maneira, sentimo-nos mais incapacitados e desprovidos de valor enquanto pessoa. Portanto, ao flertarmos constantemente com a negatividade, perpetuamos ainda mais nosso estado de limitação, diminuindo nossa autoestima e desenvolvendo um novo sentimento que pode nos abater ainda mais: a culpa.

Dessa maneira, se ainda tínhamos alguma dúvida de que algo poderia mudar, agora temos uma certeza: somos mesmo incapazes e a vida nos reserva apenas mais infortúnio e desprazer.

7)    Ficamos sem energia e constantemente cansados

A depressão, portanto, suga nossa força e energia. Assim, simples atividades como, por exemplo, tomar um banho pode ser tornar um evento de grande esforço e de consumo de nossas forças, desanimando-nos na realização de qualquer outra obrigação.

E, finalmente:

8)    Começamos a ser visitados por pensamentos de suicídio e de morte

Pensamentos recorrentes sobre acabar com o sofrimento se tornaram frequentes em alguns casos. Engana-se quem pensa que o deprimido deseja, de fato, acabar com sua vida. Na verdade, ele deseja terminar com seu sofrimento por não suportar mais viver em uma condição de martírio e de falta de perspectivas.

É usual nessas situações começarem a se manifestar ideias a respeito de como a família e os amigos ficariam sem sua presença, bem como quais seriam as formas mais efetivas de colocar um fim a tudo. Neste ponto, recomenda-se buscar ajuda imediata.

Conclusão

A essa altura, já conseguimos ter uma noção um pouco mais clara dos contornos que compõem a depressão.

Entretanto, acredito ser um dos elementos que comprometem o reconhecimento da doença – bem como o seu tratamento -, concepções incorretas a respeito desse problema.

A primeira delas seria pensar que na manifestação da depressão, encontramos o resultado de uma fraqueza mental (ou de caráter) e que, apenas através da fé e muita força de vontade, uma pessoa poderia ser curada – o que seria completamente incorreto. É muito comum receber pessoas que chegam envergonhadas para buscar ajuda a dizer que não mais se sentem "pessoas de verdade", dada sua "deficiência".

Uma segunda compreensão equivocada seria entender que a depressão não seja uma doença. Estudos mostram que pessoas deprimidas apresentam alterações significativas no cérebro e nos neurotransmissores, o que pode, efetivamente, comprometer o equilíbrio emocional de uma pessoa.

Uma terceira premissa equivocada é a de que para se obter a cura da depressão apenas medicações seriam indicadas e que, na maior parte das vezes, elas criariam efeitos colaterais indesejáveis (como ficar dopado), gerando estigmas e constrangimentos sociais por toda uma vida.

Lamentavelmente se desconhece que a psicoterapia pode, efetivamente, ser um poderoso recurso (muito poderoso, diga-se de passagem) que é usado no tratamento. E, além disso, as medicações evoluíram muito, deixando para trás a maior parte dos efeitos indesejáveis.

Minha recomendação?…

Bem, não espere que os sintomas piorem para que você possa buscar ajuda. Faça algo por você, ao invés de apenas sentir-se vítima de uma existência desgovernada.

"É a depressão que você sente quando o mundo como é não se alinha com aquilo que você acha que deveria ser", John Green.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!