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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Afinal, quem decide suas escolhas de vida?

Dr. Cristiano Nabuco

16/04/2014 09h00

© Olivier Le Moal - Fotolia.com

© Olivier Le Moal – Fotolia.com

A vida é cheia de momentos decisivos e, isso, todos nós bem sabemos.

Alguns deles são fáceis de serem manejados, como escolher o que comer no café da manhã ou a qual filme assistir no final de semana – coisas do cotidiano. Outros, entretanto, são mais difíceis e envolvem decisões mais significativas como ter que escolher uma nova cidade para morar, apostar em um novo emprego, relacionamento ou, finalmente, decidir na vida ter (ou não) filhos.

Assim, o processo de tomada de decisões, muitas vezes, acaba nos tirando da zona de conforto e, dada a amplitude das escolhas, ocasionalmente temos dificuldade em nos posicionar. Mais comum do que se possa imaginar, nestes casos de maior complexidade, literalmente acabamos deixando que o destino se encarregue de resolver. Não é raro, portanto, que nestas horas de maiores impasses acabemos apelando para outro tipo de ajuda.

Caso você ainda não tenha pensado nisso, saiba que esse processo de "terceirizar" as decisões maiores da vida é algo muito mais comum do que se imagina.

Uma pesquisa feita pela Universidade de Duke, nos EUA, e publicada no periódico Psychological Science, apontou algo bastante interessante. Disseram os resultados que quanto maiores forem as decisões a serem tomadas por uma pessoa, maiores serão as tendências de se apelar para ajudas superiores. E sabe o que é mais interessante nisso? Há aspectos positivos e negativos desse processo.

Eu explico.

De acordo com os autores da investigação, a crença em um "destino maior" ou na possibilidade de que algo já está pré-determinado (sorte em algumas ocasiões, azar em outras, por exemplo) pode tornar-se algo bastante útil nos processos decisórios mais complexos.

O estudo selecionou quase 200 participantes que relatavam estarem em dúvida em função de uma tomada de decisão significativa que deveria ser feita em sua vida. E, a partir daí, os pesquisadores propuseram alguns experimentos que envolviam compreender certas características destas situações difíceis.

O resultado?… Bastante interessante! Identificou-se que, quanto maior a dúvida que existiam entre os entrevistados, maiores foram as chances de as pessoas acreditarem que o desfecho sofreria interferência de outras instâncias. Assim, neste grupo de participantes, verificou-se uma maior frequência do uso de frases como: "o caminho já está traçado", "a minha sorte já está decidida" ou ainda "seja qual for o resultado, esse será o melhor caminho para mim".

Já aqueles que conseguiam ter uma perspectiva mais clara das dificuldades que envolviam os problemas, colocando-os mais facilmente em perspectiva e pensando mais claramente sobre seu papel, foram eles que conduziram os impasses decisórios de forma mais sensata, pois inevitavelmente se apercebiam da própria responsabilidade na direção dos resultados. Sabe então a razão pela qual este grupo foi o mais tranquilo?  Tinham uma maior sensação de controle sobre sua vida pessoal.

De acordo com os autores, portanto, a tendência frequentemente observada foi a de que quando as pessoas acham difícil manejar as diferentes opções que têm em suas mãos, mais elas tenderão a acreditar em mecanismos intangíveis ou sobrenaturais na determinação de seu destino.

Entretanto, aquelas que percebiam com mais clareza que, o que viessem a decidir poderia, de fato, vir a impactar de forma expressiva seu futuro, menores foram as chances de considerar interferências externas (ou preestabelecidas).

Conclusão

Acreditar em algo para além da vivência física pode, muitas vezes, ajudar certas pessoas a ficarem menos culpadas ou menos estressadas em um processo decisório, pois se sentem mais amparadas pelo destino.

Por outro lado, conseguir ter mais recursos de análise, pode igualmente fazer com que alguns se sintam mais seguros e mais no controle de seu destino.

Bem, e em seu caso, quem decide suas escolhas de vida?…

Independente do estilo de enfrentamento que desenvolvemos, nosso cérebro sempre acaba "dando um jeito" para que o estresse situacional possa ser, de alguma maneira, contornado e, para que, no final das contas, nos sintamos menos desamparados pela vida.

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Quer saber mais? Acesse: http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2013/06/28/voce-esta-no-controle-do-seu-destino/

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!