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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Mania de deixar tudo para depois? Entenda o mecanismo da procrastinação

Dr. Cristiano Nabuco

25/09/2013 07h00

© Maridav – Fotolia.com

Todos nós, invariavelmente, fazemos planos para modificar nossa vida. Isso inclui começar uma academia, ler um determinado livro, fazer um determinado exame de saúde ou ainda tentar se planejar financeiramente. E, no caso de situações mais corriqueiras, resolver problemas menores do cotidiano (como reorganizar aquela estante ou gaveta que acumula todo tipo de objetos e papéis).

Mas usamos quase sempre a mesma desculpa, ou seja, amanhã ou no próximo final de semana, finalmente resolveremos. Desta forma, passam-se dias, semanas ou até meses e nossa lista apenas aumenta e as pendências acumulam-se.

Caso você ainda não saiba, isso tem um nome: chama-se procrastinação, ou seja, o ato de deixar para depois, adiar resoluções que precisariam ser tomadas no momento presente.

Além de atrapalhar as engrenagens que compõem nosso processo natural de vida, a procrastinação torna-se um verdadeiro problema. E olha que não sai barato, pois acabamos, muitas vezes, levando também esses hábitos para a nossa vida profissional.

E sabe o que é o pior?… Eu explico: Tal "vício" acaba por criar embaraços à nossa autoestima, pois, ao pensarmos no dever inconcluso, inevitavelmente também nos deparamos com uma boa dose de arrependimento, resultado de nossa inércia.

Mas, afinal, por que fazemos isso?…

Uma pesquisa feita na Alemanha tentou responder a essa questão, analisando a forma como pensamos a respeito de uma determinada tarefa e como a tendência de postergar as coisas domina, muitas vezes, o nosso pensamento.

Basicamente, o estudo descobriu que muitas vezes acabamos, sem perceber, distorcendo a percepção do tempo que precisaríamos para resolver uma questão, por isso achamos que vamos precisar sempre de menor tempo, minimizando a importância da resolução imediata.

Desta forma, o estudo fez uma experiência. Pediu aos participantes da pesquisa que se dividissem em dois grupos. O primeiro deles deveria escrever a respeito de como realizar  uma determinada tarefa (como seria a forma ideal de limpar uma sala após uma festa, por exemplo), enquanto que o outro grupo foi questionado sobre qual seriam as ações imediatas (o "passo-a-passo") da realização. E assim, os dois grupos partiram então para a execução.

A conclusão foi bem interessante.

Aqueles que passaram mais tempo pensando sobre o conjunto das coisas (o primeiro grupo) foi o que levou mais tempo para iniciar o trabalho, pois se detiveram muito mais no planejamento, isto é, na elaboração das medidas de ação. Entretanto, aqueles que pensaram mais no passo-a-passo (o segundo grupo), rapidamente acabaram se engajando na resolução imediata do problema.

A conclusão observada foi a de que pensar nas tarefas de uma maneira mais resoluta fez com que a procrastinação e o tempo de resposta fossem diminuídos. Além disso, complementaram os autores, as pessoas se tornaram também mais organizadas para a ação.

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  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/09/24/voce-procrastina-atividades-ao-longo-de-seu-dia-a-dia.js

Preguiça ou receio?

Vale lembrar que o procrastinador, muitas vezes, também tem medo que o resultado de seu trabalho venha a sofrer uma avaliação pública. Assim sendo, rapidamente aparecem os "bloqueios" de execução e a decisão de, por enquanto, não fazer nada. Desta forma, tais pessoas, quando questionadas, apresentaram várias desculpas à sua ineficiência – muitas vezes externas, como a falta de tempo, carência de habilidades ou ainda pouco recurso econômico.

O problema é que, na maioria das vezes, isso se torna uma bola de neve e as pessoas, na pressão sofrida pela falta de andamento, acabam desempenhando as atividades de maneira improvisada, o que, obviamente, leva à baixa qualidade. Assim sendo, um círculo vicioso (evitativo) é instalado.

Muitas vezes então essa pessoa joga o trabalho para frente com a desculpa de que precisa de mais tempo para realiza-lo e diz: "na semana que vem, eu farei isso com mais calma", mas nem por isso o realiza ou o faz de melhor maneira.

Conclusão

Lembre-se de que não há nada de errado em procrastinar uma vez ou outra, entretanto, o problema é quando isso começa a ficar crônico e passamos a adiar frequentemente coisas que não poderiam ser adiadas.

Assim sendo, se você tem problemas de procrastinação – ficar enrolando – tente criar  lista(s) de execução do tipo passo-a-passo e procure ir "ticando" cada vez que uma parte do projeto for sendo realizada. E, se você tem uma agenda, atualize as listas a cada dia. Usar "post it" como lembretes também é um ótimo recurso.

Dessa forma, seu senso de urgência vai ficar mais apurado e você, seguramente, terá mais autocontrole a respeito de seus projetos de vida.

 

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!