Topo

Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Homens se sentem mal quando as mulheres ganham mais que eles, aponta pesquisa

Dr. Cristiano Nabuco

13/09/2013 07h00

© ArtFamily – Fotolia.com

Lá no fundo, os homens odeiam ter que dividir a glória de sua vida de sucesso com sua esposa ou namorada, foi pelo menos o que concluiu uma recente investigação publicada pela American Psychological Association. Assim sendo, para a autoestima dos homens, elas deveriam ganhar sempre menos do que eles.

Não importa o quanto seja significante que suas parceiras sejam bonitas, inteligentes e eficientes no trabalho, mas quando elas passam a ganhar mais, eles se sentem piores consigo mesmos.

É interessante observar, entretanto, que o inverso já não acontece, ou seja, as mulheres não são afetadas pela brilhante carreira dos parceiros.

Os autores dizem que esses dados fazem bastante sentido, pois quando isso acontece, eles se sentem ameaçados, uma vez que a grande maioria dos homens costuma ser bastante competitiva. A pesquisa diz também que para eles essa relação é quase automática: se elas vão bem, eles "falharam", mesmo que isso não devesse significar uma disputa com mais ninguém.

E os resultados não pararam por aí.

A frustração deles vem à tona toda vez que suas parceiras conseguem fazer algo que eles não conseguiram. Por exemplo, um jogo de laboratório feito por pesquisadores da Universidade de Virgínia, misturou testes de resolução de problemas e de autoestima para serem respondidos por 32 casais. Quando os homens achavam que sua parceira havia feito mais pontos que eles nesse jogo, sua autoestima piorava imediatamente, mesmo que não verbalizassem isso abertamente.

Outro estudo similar, feito nos EUA, também mediu a comparação entre outras pessoas e suas parceiras. Assim, quando os homens ficavam sabendo que não haviam ido bem em a um teste, eles se sentiam mal, mas quando a "outra pessoa" era sua parceira, eles se sentiam piores ainda.

Um dado interessante notar é que nessas pesquisas as mulheres também apresentaram uma resposta inversa: quando sabiam que seus parceiros haviam ido muito bem – até mesmo melhor que elas, – elas diziam se sentir orgulhosas e felizes.

Conclusão

Devo confessar que a esta altura seria muito tentador afirmar que os homens, na verdade, sempre foram muito machistas (e que, na verdade, já é um "caso perdido"), mas eu suponho que essa não seria a melhor explicação.

Lembre-se que trazemos nossas heranças evolutivas de nossos antepassados até os dias de hoje e, desta forma, seria plausível assumir que, possivelmente, os papéis ficariam biologicamente invertidos quando a mulher estivesse sendo mais atuante.

Eu explico.

Os homens sempre disputaram a liderança do bando, caçando, lutando contra inimigos e protegendo a família dos animais selvagens, o que inevitavelmente lhes assegurava maior status perante os demais. Assim, é possível que ao ser ultrapassado (ou protegido) por quem o homem deveria cuidar, a mulher, possa contribuir para uma inversão de papéis, fazendo com que ele (o homem) momentaneamente se sinta mal por ter sido ultrapassado (economicamente).

Portanto, talvez a explicação mais provável então seja a de que esta tendência biológica mais primitiva de sobrevivência e de liderança do bando ainda permaneça ativa na cabeça deles nos dias de hoje.

Bem, e as mulheres? Por que não se sentem mal ao serem superadas pelos homens nos experimentos?

Se formos seguir a mesma linha de raciocínio, também fica claro que a mulher, ao ser vencida pelo homem, ainda permaneça sentindo-se bem (ou "protegida"), sem gerar maiores preocupações, pois os papéis biológicos no grupo permaneceriam ainda mantidos.

Enfim, para se pensar.

 

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!