Topo

Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Phubbing na presença dos filhos

Dr. Cristiano Nabuco

11/09/2013 07h00

© omicron – Fotolia.com

Aqui no blog já tratamos de phubbing (leia mais aqui), que é aquele comportamento cada vez mais comum das pessoas estarem fisicamente no mesmo lugar, mas com a atenção voltada para os smartphones ou tablets.

Imagine então para os filhos de casais separados, que, além de lidar com a distância dos pais que saíram de casa, precisam competir com os emails, mensagens, redes sociais e toda a enxurrada de informação. Se a tecnologia, por um lado, encurta distâncias, por outro nos afasta de algumas convivências físicas importantes.

Pois bem, foi exatamente essa questão que uma nova investigação realizada pela Universidade de Illionois procurou averiguar. Analisando crianças de três e cinco anos de idade, os pesquisadores perceberam que um dos efeitos mais imediatos sentidos pelos pequenos foi a mudança de proximidade.

Lembremos que um divórcio normalmente faz com que um dos cônjuges se mude para locais mais distantes de seus lares originais e essa maior separação geográfica pode favorecer o aparecimento de alguns problemas nas crianças.

Neste momento, a boa notícia é que o uso da tecnologia se torna vital na tentativa de contornar a distância criada. O Skype, por exemplo, pode melhorar a intimidade e a conexão entre esses pais e seus filhos que vivem mais distantes. As mensagens instantâneas como torpedos e WhatsApps, adicionalmente também entram em cena, preenchendo o espaço vazio.

A má notícia, entretanto, é que este hábito não fica restrito apenas aos momentos de separação, ou seja, mesmo na presença dos filhos distantes, muitas vezes os pais não conseguem largar seus celulares e dar a devida atenção aos pequenos "ali presentes".

É extremamente comum observarmos em restaurantes, por exemplo, um dos pais dando mais atenção aos seus aparelhos do que para seus filhos. Usuários de smartphones, de acordo com a fabricante de celulares (Nokia), chegam a verificar seus telefones até a marca de 1.500 vezes ao dia.

E cada um desses momentos de distração é uma concorrência direta às experiências de contato tão esperado pelos filhos. "Quando se está interagindo com uma criança, mas não se está olhando para ela ou ouvindo o que ela está dizendo, isso se torna péssimo para a relação. Sem isso, as crianças se transformam em indivíduos inseguros que passam a fazer qualquer coisa por alguns minutos de atenção", afirma Clifford Nass, pesquisador e professor da Universidade de Stanford.

E a qualidade – não somente quantidade – de tempo gasto com as crianças é algo extremamente importante. A tecnologia pode interferir nas comunicações ao piorar de maneira exponencial a qualidade das comunicações (e, obviamente, dos relacionamentos).

Muitas vezes, apenas um tempo de interação física, real, pode realmente começar a auxiliar na diminuição dos efeitos sentidos pelas crianças nas situações de separação. Esse hábito automático de interrompermos a conversa para apenar "dar uma olhada" nas mensagens do celular, pode fazer com que uma interação se torne extremamente superficial.

Moral da história: ficamos impedidos de aprofundar nossos afetos com os filhos, pois alguma coisa disputa nossa atenção, distraindo-nos  e tirando nosso foco.

Vai aqui um desafio: procure conversar com alguém que sistematicamente desvia o olhar para checar suas mensagens. Posso lhe assegurar que é uma experiência bastante frustrante.

Assim, quando for reencontrar seu filho pequeno ou alguém que não vê há muito tempo, procure deixar de lado a tecnologia e não fique apenas de corpo presente. As crianças, em especial, sabem quando os pais não estão prestando atenção nelas e ficam tão afetadas – tristes e/ou ansiosas – quanto se estivessem sozinhas.

Além de ser uma tremenda falta de consideração deliberadamente se distrair do outro, acredito que a saúde de sua relação irá agradecer-lhe.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!