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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Muito tempo em frente à TV diminui habilidades sociais e cognitivas em crianças, afirma nova pesquisa.

Dr. Cristiano Nabuco

06/09/2013 07h00

© Patric Martel – Fotolia.com

Essa é a primeira vez que um estudo controlado identificou a correlação entre tempo gasto na frente da TV e o impacto nas habilidades gerais das crianças, segundo a investigadora Linda Pagani, da Universidade de Montreal.

O estudo observou 991 meninas e 1006 meninos, cujos pais diziam que, entre as atividades diárias dos filhos, estava a de ver televisão.

E os resultados? Assustadores.

A constatação foi a de que, além da média aproximada de uma hora e dez minutos diários, cada hora extra de TV representou – em crianças com idade até dois anos e meio – uma significativa diminuição no vocabulário pessoal (como o número de palavras reconhecidas e gravadas), queda das habilidades matemáticas, decréscimo do nível de atenção e de resposta a estímulos, piora na capacidade de se defender de ataques físicos de outras crianças, ou seja, aumentaram as chances de vitimização e, finalmente, uma importante redução das habilidades físicas gerais.

Vamos lembrar que as experiências vividas neste período podem ser decisivas na construção da autoestima e na determinação das chances futuras de sucesso dos pequenos, conforme vários estudos já atestaram. Desta forma, não viver bem esta fase pode deixar marcas perenes.

Por exemplo: uma piora na habilidade motora nessa idade tem um paralelo com menores habilidades físicas no futuro.

Já um menor vocabulário no jardim da infância pode levar a um decréscimo no interesse futuro de leitura, isso sem falar na piora dos níveis de atenção. A consequência mais óbvia? Simples, o fracasso acadêmico guarda relações com a dificuldade de identificar instruções ao se fazer uma determinada tarefa, aumentando assim as chances de frustração e esquiva em atividades que exijam raciocínio. Moral da história? É possível até que o sucesso econômico na vida adulta sinta o impacto desta dificuldade.

Bem, e não saber se defender das agressões dos colegas? Possivelmente poderá contribuir com o aumento da introversão e do sentimento de exclusão social, pois sentir-se menos seguro poderá interferir na capacidade de socialização, tornando-as mais embotadas emocionalmente.

Não querendo ser muito pessimista, mas vamos considerar, inclusive, que estes efeitos podem estar subestimados. Como? Eu explico. Imagine que no caso das crianças que são cuidadas por terceiros (como creches ou por babás, por exemplo) e que sabidamente ficam expostas muito mais tempo a TV. Enfim, é para pensar.

Os autores da pesquisa dizem que identificar esses indícios de excesso de TV na infância pode ajudar a modificar padrões de comportamentos futuros, inteligência e habilidades cognitivas na idade madura, além de impactar a escolha por estilos de vida mais saudáveis.

É bom ficar atento(a)!

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!