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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Sexting: uma ameaça desconhecida

Dr. Cristiano Nabuco

31/05/2013 07h00

Asiaselects/Corbis

Caso você não tenha ainda ouvido falar, sexting é o ato de compartilhar, com auxílio tecnológico, textos, imagens ou vídeos de cunho erótico do próprio corpo (com pouca ou, às vezes, literalmente nenhuma roupa) com parceiros. A palavra é o resultado de uma mistura de "sex" (sexo) e "texting" (enviar mensagens de texto) e é mais comum do que se imagina.

Talvez você pense que isso seja coisa de adolescentes, como viver no limite ou se envolver em comportamentos de risco com maior frequência, entretanto, uma pesquisa realizada aqui no Brasil e na América Latina, pelas Telas Amigas, eCGlobal Solutions, eCMetrics e CLIPS, entre os dias 25 de junho e 28 de julho de 2012, junto a 5.494 maiores de 18 anos, concluiu que 40% das pessoas com acesso à internet, desta amostra, já haviam praticado sexting.  Vale ressaltar que 65% das pessoas que enviaram material não tinham conhecimento do termo.

sexting tem se tornado um fenômeno global. Nos EUA, um levantamento indicou que, de um grupo de adolescentes pesquisados, 50% já haviam feito o envio de material erótico para outras pessoas através de celular ou internet.

O uso da tecnologia para mandar ou receber material sexual explícito têm, em vários casos, implicações legais. Por exemplo, os principais riscos associados ao sexting no Brasil foram a extorsão (59%), cyberbullying (45%), danos à honra, intimidade e imagem (42%) e, finalmente, a pornografia infantil (36%).

O que as pessoas não atentam é que as imagens enviadas aos parceiros usualmente não permanecem junto aos seus destinatários finais e assim rapidamente caem na rede, podendo ter consequências irreparáveis por toda uma vida.

O efeito exposição

Na verdade, embora o exibicionismo seja uma das razões apontadas para justificar tais comportamentos, várias podem ser as motivações que levam as pessoas a partilhar suas intimidades. O efeito exposição é uma teoria que parte do princípio de que criar uma intimidade forçada com alguém (por exemplo, ao mandar fotos) faz com que estas pessoas ainda um pouco distantes, se tornem mais próximas do que realmente o são, aumentando assim as chances de aceitação pessoal.

Em uma época onde a imagem acaba tendo mais apelo do que o próprio conteúdo (ou ainda na falta de um conteúdo, no caso de pessoas mais inseguras), enviar parte de sua intimidade se tornou moeda de troca, ao criar uma forma mais eficaz de aproximação.

No caso dos adultos, podemos dizer que a prática seria um risco calculado, mas no caso de adolescentes, os efeitos podem não ser tão medidos e apresentar consequências devastadoras. Vamos lembrar que os menores apresentam habilidades emocionais mais reduzidas, ou recursos técnicos para se defender de uma situação constrangedora. Assim, aliciamento pela rede, cyberbullying na escola ou então chantagem para que suas fotografias ou vídeos não sejam divulgados, seriam os menores exemplos.

Você sabia que parte do material pornográfico disponível na internet tem esta origem?

Embora a maioria das pessoas avaliadas não relatem sentir total segurança ao enviar material erótico pessoal aos seus parceiros, ainda assim o fazem (o que é incrível!), ou seja, embora tenha consciência dos riscos inerentes, as pessoas continuam enviando. Dos entrevistados, 20% relatam já terem vivido algum tipo de prejuízo ou constrangimento pessoal pelo material enviado.

Quais cuidados tomar?

Talvez você ainda não saiba, mas já existe um registro de todas as suas publicações na internet. Empresas já oferecem aos interessados (empregadores, por exemplo) um registro bibliográfico, contendo todas as ações que uma pessoa fez, dentro da web.

E você, por acaso sabe qual seria a função disso? Levantar um panorama geral de todos os "reais" interesses, preferências e, por fim, um retrato da verdadeira personalidade de uma pessoa. Portanto, se você ainda acha que seu anonimato está garantido na web, fique atento para não ter uma amarga surpresa depois.

Minha opinião?… Bem, devo confessar que o assunto é polêmico, mas, pensando positivamente, é possível que em uma época que a internet seja parte integrante de nossa vida e os contatos virtuais predominem, talvez estejamos vendo a sexualidade tentando se reiventar. Como muitas experiências na rede se tornaram parte do horizonte de cada um, talvez as pessoas acabem procurando uma sexualidade (virtual) como uma extensão de sua vida.

Mas, pensando por outro lado, é possível também que as pessoas estejam tão vazias delas mesmas, que este novo comportamento seja apenas uma renovada tentativa de dar algum tipo de sentido à vida pessoal de cada um. Quem sabe…

E você, leitor, o que pensa a respeito?…

De qualquer forma, fica a dica: tenha cuidado com o envio de qualquer conteúdo pela internet (seja a prática do sexting, o envio daquela outra foto mais alegre postada na rede social com um copo de bebida na mão, e-mail etc), pois isso pode realmente vir a lhe prejudicar. Parte da construção de nossa maturidade consiste em aprender a avaliar corretamente os riscos de nossas ações e seus desdobramentos, portanto, não faça da internet e da tecnologia uma ameaça desconhecida.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!