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Blog do Dr. Cristiano Nabuco

Consequências psicológicas de viver um atentado

Dr. Cristiano Nabuco

16/04/2013 16h54

CORBIS

Nossa vida e nossa estrutura psicológica são sempre organizadas em função de rotinas que, em maior ou menor grau, ordenam nossas experiências. Sempre que passamos por situações que alteram este padrão de maneira mais repentina, somos desorganizados por estas vivências. Assim sendo, os chamados "traumas" tem a capacidade de nos tirar dos trilhos, pois são experiências que fogem ao nosso padrão de previsão e de controle de vida.

A exemplo do atentado acontecido em Boston, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% das pessoas que presenciaram um evento traumático terão sérios problemas de saúde mental para a vida toda, enquanto outros 10% vão desenvolver comportamentos que podem ser incapacitantes.

Depressão, ansiedade, doenças psicossomáticas – como insônia, dores nas costas e problemas de estômago – estão entre os problemas mais comuns. E, principalmente, o estresse pós-traumático está associado à vivência de uma experiência como esta e pode se desenvolver paralelamente.Como os atentados são situações inesperadas, repentinas e impactantes, além dos danos físicos, os problemas emocionais também passam a fazer parte do acontecido.

O que acontece após um evento traumático?

O choque e a negação são respostas normais de alguém que viveu este tipo de evento traumático, especialmente no período imediatamente após o ocorrido. Essas duas respostas são uma forma de proteção do que o cérebro encontra de tentar "acomodar" este tipo de vivência intensa e confusa.

O choque é uma resposta emocional que faz com que as pessoas se sintam inicialmente desorganizadas. Já a negação envolve não admitir que algo de muito estressante aconteceu. Isso faz com que as pessoas não sintam, momentaneamente, a intensidade do evento. Há também relatos de uma forte sensação de desconexão com a vida. Entretanto, após este choque inicial as respostas à situação podem variar.

Como as pessoas reagem com o passar do tempo?

O tempo de reação depende de pessoa para pessoa. Algumas sentem imediatamente os efeitos enquanto outras demoram um pouco mais (meses e até mesmo anos) para que possam se dar conta que há algo errado com elas e, portanto, o tempo de recuperação também pode variar. A intensidade das reações emocionais também oscila com o passar do tempo. Por exemplo, algumas pessoas se sentem mais "vivas" e depois podem vir a desenvolver uma depressão. Em outras, já pode acontecer exatamente o inverso.

●  Haverá possivelmente alterações de humor e, desta forma, estar preparado para esta montanha russa emocional é um ponto importante (indivíduos podem descrever "flash backs" ou lembranças traumáticas do acontecido. Outros podem ter reações de taquicardia ou de transpiração excessiva);

● "Aniversários" do evento (1 mês, 1 ano), podem servir como gatilho para que as velhas lembranças voltem a memória;

●  Muitas pessoas podem começar a ter problemas de relacionamento interpessoal e podem se tornar mais isoladas;

●  Sintomas físicos podem acompanhar este estado de estresse agudo. Dores de cabeça e náuseas são muito frequentes.

Como procurar ajuda?

●  Procurar apoio ou ajuda às pessoas próximas e que estejam preparadas para, mais que tudo, ouvi-lo e entender seus sentimentos.

●  Não guardar as experiências para si. Procurar um familiar, amigo ou então a ajuda de um profissional de saúde é importante. Manter um diário para registrar as lembranças também é uma boa estratégia.

●  É importante evitar consumir álcool e outras drogas, pois isso pode piorar as respostas a eventos traumáticos.

●  Ter rotinas fixas, como horários para comer, para ir aos locais – trabalho, atividades de lazer e compromissos sociais – pois isso ajuda na recuperação da sensação de controle sobre a vida.

●  Evitar tomar decisões que afetem a sua vida no longo prazo, como mudar de cidade ou abandonar o emprego ou carreira. Isso também são coisas estressantes e que pioram a sensação de impotência

●  O respeito às práticas religiosas e culturais também se mostraram um fator bastante importante para ajudar pessoas a lidarem melhor com o período traumático que viveram.

Situações como o atentado em Boston ou do incêndio Boate Kiss no Rio Grande do Sul mostram o quanto somos frágeis e como situações imprevisíveis podem ser devastadoras para muitas pessoas. Buscar ajuda é uma das atitudes mais inteligentes a se fazer.

Sobre o autor

Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 32 anos. Tem Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente trabalha junto ao PRO-AMITI do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP; Coordena o Núcleo de Terapias Virtuais (SP) e o Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo. Foi Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC). Publicou 13 livros sobre Psicologia, Psiquiatria e Saúde Mental.

Sobre o blog

Neste espaço, são discutidas ideias e pesquisas sobre comportamento humano, psicologia e, principalmente, temas que se relacionam ao cotidiano das pessoas. Assuntos centrais na construção de nossa autoestima, felicidade e vida. Seja bem-vindo(a)!